TROTE UNIVERSITÁRIO

Prova, brincadeira a que, nas escolas e universidades, os veteranos submetem os calouros. (DICIONÁRIO-AURÉLIO)

“Um círculo vicioso de violência simbólica e de violência real, causada por uma soberba intelectual aliada a práticas sadomasoquistas” (ANTONIO ZUIN- UFSCAR)

Passar no vestibular: “momento de alegria, de mudança, esperança de ascensão social”. Sonho de ouro de milhões de jovens que almejam chegar à faculdade e assim apreender uma profissão de nível superior que posteriormente lhe garantirá uma vida de mais conforto, com casa, carro, enfim uma vida com mais dinheiro. Obviamente também, uma forma de ser mais útil á sociedade.

Depois de selecionado em um determinado curso, o aluno ingressante passa por uma prova de fogo, conhecida como TROTE. Costume arraigado no meio acadêmico, geralmente organizado por alunos de séries mais adiantadas, que se alegram em ridicularizar e humilhar os alunos iniciantes. Tudo isso com a aquiescência das escolas e da sociedade. Volta e meia observa-se cenas grotescas, animalescas por parte dos integrantes desses eventos de absoluto mau gosto. Cuja menção de bixo (com X) para designar os colegas, é uma clara demonstração de desprezo, uma alusão à inferioridade dos calouros.

Não se percebe nesse momento, nenhuma integração. Considerando, que o objetivo do trote universitário, criado no século XIV, foi o de facilitar o entrosamento entre os alunos ingressantes com o restante do corpo universitário. Na verdade, trata-se muito mais de uma vingança pelos maus tratos que os mais velhos sofreram quando eram calouros, contra os inocentes ingressantes, que mais tarde terão a oportunidade se vingar nos próximos calouros, e assim essa prática vai se perpetuando ao longo do tempo. O aluno não tem a opção de não participar. Caso insista, quase sempre é perseguido e seu castigo acaba sendo maior. Muitas das vezes é impedido de assistir as primeiras aulas, sendo o famigerado trote dado com muito mais rigor e violência.

Nos cruzamentos das avenidas, jovens calouros, com o corpo pintado e roupas rasgadas, disputam com mendigos as moedas dos indivíduos dentro dos carros. Muitas vezes, ouvindo obscenidades destes e dos transeuntes, que passam por lá. Uma maneira deprimente de entrar em um curso superior, pois os ingressantes utilizam a indigência (esmolar) com o objetivo de comprar droga (álcool). “Somos o que fazemos”, logo uma ação sabidamente abominável não deve ser estimulada, principalmente a quem esteja no período de sua formação profissional.

A propósito, de acordo com o noticiário nacional, O MPF (Ministério Público Federal) iria apurar quem foram os responsáveis pelo trote na Faculdade de Agronomia e Veterinária da UnB (Universidade de Brasília), no qual calouras tiveram de lamber uma linguiça com leite condensado de um boneco, em uma simulação de sexo oral. Ocorreu no dia 11 de janeiro 2011 dentro da universidade com a participação de aproximadamente 250 estudantes. É lamentável que tais cenas ocorram entre aqueles que um dia teoricamente irão conduzir os destinos de nossa nação, afinal eles, os acadêmicos, representam a elite intelectual do país.

Colocca (2003) destacou em sua dissertação de mestrado “o debate entre alunos e professores sobre a forma como são realizados as atividades de integração poderia desencadear uma reflexão, buscando novas alternativas dos calouros á vida universitária”. Idéias não faltarão e a integração acontecerá naturalmente. Evidentemente, sem a utilização de subterfúgios que ferem a dignidade humana.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 21/08/2011
Reeditado em 09/09/2011
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