Idade

Presto toda a atenção ao seu caminhar, ereto e decidido, com passos largos e precisos de uma jovialidade que destoa de seus belos cabelos grisalhos. E a pergunta que paira no ar tem a mesma inquietude de seu espírito: quantos anos nós temos?

Somando, mais de um século. Mas temos mais. Temos a idade de nossos avós, intrépidos por natureza ou necessidade, que cruzaram o oceano em busca de algo que nem sabiam o que era, mas que resumiam como "uma vida melhor". Temos a idade do rio que corta o campo onde eles lavraram a terra, a idade das montanhas de cujo gelo aquele rio se formou.

E também temos menos, muito menos idade do que os papéis documentam. Somos adolescentes curiosos e inquietos, vivendo tudo o que jamais nos foi possível viver, cada um à sua maneira. Somos jovens para quem os mesmos papéis não têm a validade que deveriam ter caso fôssemos mais velhos e responsáveis. Somos almas sem idade, tentando recuperar um tempo perdido num passado nebuloso que às vezes se confunde com o presente, projetando um futuro até ontem inimaginável - e agora quase uma realidade.

Por isso presto tanta atenção ao seu caminhar. Cada passo lépido de suas pernas fortes, cada movimento controlado de seu corpo esguio, cada esvoaçar delicado de seus cabelos grisalhos me diz um pouco sobre você, sobre mim, sobre nós indistintamente. E agora eu sei: não importa a idade que temos. A única coisa que temos de fato é uma vida para viver.