Viver é desejar viver

Todo mundo conhece alguém super feliz. Ao menos uma pessoa de seu círculo de conhecidos transmite a imagem de realização. Seja no trabalho, no amor, nos estudos ou no dinheiro idealizamos aquela vida para nós, e nos angustiamos por possuí-la. Não me darei por satisfeito enquanto não for como ele. No fundo o que queremos é a felicidade, é sentirmos em nossas veias ou no respirar diário o aroma estoico de uma propaganda de banco.

Agora, pense na tristeza: todos conhecemos pessoas super tristes. Ninguém quer ser triste como aquela ex-colega de classe que hoje está gorda e com três filhos de cada marido, nem mesmo como aquele bagunceiro da última fila que hoje vende empréstimos nas calçadas. Mas há ainda um algo mais: Quando a pessoa é triste e não vemos em sua vida motivo pelo qual ela esteja reclamando tanto.

Leon Tolstoi escreveu a melhor primeira linha de um livro, que diz que toda família feliz se parece, mas cada família infeliz a é à sua maneira. Assim são as pessoas também. Cada amigo feliz é um a mais, há um padrão na felicidade dos outros, assim como cada amigo infeliz o é de certa forma fora dos padrões, pois a infelicidade deles não nos interessa, ou se interessa não captamos a dor em nosso sistema de crenças, de valores, ou em nosso histórico de vida. Senão vejamos:

- Todo amigo financeiramente feliz traz à mente um carro bonito e azul e aquela lourinha da loja de joias da galeria na carona;

- Todo amigo profissionalmente feliz traz à mente o happy hour começando às 6 da tarde de uma sexta;

- Todo amigo sexualmente feliz traz à mente o poder.

Agora, todo amigo infeliz é um problema a mais para nós, qualquer que seja. Por mais que tenhamos o desejo da empatia não desejamos estar em seu lugar. No máximo questionamos o porquê de um possível sofrimento imerecido ou sem sentido. E as manifestações de sofrimento de cada um só podem ser entendidas por quem sofre, pois ninguém sabe da dor do outro, mas o prazer é universal; então é como escrever por prazer, pouco importa a quem agrade, mas necessário é conviver com a frustração.

Então, que as minhas dores sejam só minhas, e as alegrias compartilhadas. Ninguém vai querer me ouvir na dor, mas o gáudio que transborda pode refletir para o bem, por mais que os meus amigos não passem de sanguessugas do prazer alheio.