O DRAMA DA VIDA PÚBLICA XIV
ZAQUEU NA ESCOLA
Naquele tempo, quando Zaqueu ainda era um mero vereador e estudava o curso noturno, ficava intrigado com as aulas de matemática. O professor Geraldo era um homem sábio, importando lá da terrinha, sempre procurou levar sua cadeira com bases filosóficas, e o vereador Zaqueu ficou impressionado. Havia passado um semestre e o estudioso aluno aprendia a todos os ventos, matemática comparada, coisa que o professor Geraldo mesmo descobrira.
“Trinômio do primeiro grau é uma equação com três termos e de expoente um. A soma pela diferença de dois termos é o quadrado do primeiro, mais o quadrado do segundo”.
Falou o homem sobre quadrado perfeito, teorias e teorias: Pitágoras, e outros matemáticos antigos.
Mas Zaqueu, iludido que poderia saber mais do que o mestre, apoderara da questão e tentara inverter a aula ao seu próprio modo. O professor, de raiva das indolências do aluno ficara tão pálido tanto quanto esposa de vampiro, mas titubeou.
Lá pelas tantas, quando a hora do recreio já havia passado e Zaqueu já havia devorado seu sanduíche de mortadela, voltou ao professor e disse:
— Professor! Gostaria de aprender matemática quântica?
— O quê? — indagou o velho mestre.
— Ora professor, matemática quântica.
— Mas você sabe o que é matemática quântica?
— Não, não sei. E o senhor sabe?
— Nem eu.
Um pouco desenxabido o velho ciscava de um lado ao outro, sempre res-mungando não se sabe o quê; depois voltou ao intrigante aluno.
— Zaqueu, porventura você sabe tabuada?
— Sei.
— E os países e as capitais do mundo?
— Também.
— O El Niño, o que é?
— Esta é fácil, professor. Quando eu era criança aqui mesmo em Viruslândia, subia nas árvores para assaltar os ovos dos el ninhos dos passarinhos.
“Só matando” — pensou o grande mestre.
Após ficar por um tempo mais encabulado do que noivo ao pedir a mão da moça em casamento o professor tentou retirar um pouco mais de seu aluno indiscreto.
— Falamos há pouco sobre matemática. O senhor ainda lembra o que é um quadrado perfeito?
— É o senhor, professor!
— Como, eu?
— Quem não sabe nada e vive perguntando tudo pra mim é o senhor.