Nos pensamentos mais profundos

Matriculou-se no curso de filosofia mesmo contra a vontade dos seus pais, não era um sonho mas era uma curiosidade que aflorara em seu espírito ainda cedo. Lera Nietzsche ainda sem idade para compreende-lo como se deve compreender. Sua curiosidade metafísica as vezes chegava em um teto de não se contentar com as respostas e procurar perguntas que troussessem respostas mais interessantes. Sua busca chegou em diversos muros, e teve que tomar rotas mais distintas. O Limbo do pensamento humano! Tentou matar-se para justificar Platão, mas viu que era uma ideia tola.

E com tolas ideias o homem fez a guerra.

Deitava-se na areia da praia, as ondas faziam seu barulho habitual, tentava explicar o mundo para o mundo mas o mundo não estava preparado para descobrir que era um mundo. Separou-se, morreu e nasceu denovo naquele dia. Jogou-se ao mar e entendeu o quão era pequeno diante da imensidão da natureza. Era criança, era leão e já passara pelo camelo. O mundo se torna muito vasto quando nós não temos um caminho certo a seguir, discutira consigo mesmo e entristecera de não ter ninguém para contar suas seguintes conclusões. Poderia até mesmo escrever no espelho do quarto que pensa e existe mas sua existência seria uma existência real? Fingira-se doente para entender a cabeça dos enfermos, bebera para entender a embreagues dionisíaca mas não chegara a fim algum.

Também não entendera o porquê de várias coisas, mesmo depois de seu curso de filosofia. Desiludido com aqueles garotos fanfarrões e beberrões. Tais alegrias mundanas não faziam parte de seu espírito. Esperava longos debates fervorosos sobre diversos temas, mas nada conseguira além de termos técnicos e teoria dos mortos. Tomava-lhe a angústia de saber que estava só no mundo, era o clone do nada, era o vazio em pessoa. Encolerizava-se e buscava a resposta para o seu sofrimento solitário. Por que as pessoas eram tão vazias? Estranhava, quebrava espelhos, destruia-se. Tentou se transformar nas pessoas que ele não acreditava para tentar descobrir o porquê daquele gostoso vazio. Sentira-se pior.

Com os livros do Nietzsche espalhados pelo chão, com copos derrubados pelos cantos ele descansava. Buscou a resposta em seu velho amigo Nietzsche mas ele não pode ajudar muito, os problemas do mundo são problemas que só nós podemos resolver.

Vagou sem rumo pelas brancas areias da praia, estava só, estava deserto. Seu rosto salpicado pela água do mar e sua angústia como cravo no peito. O mar respondia suas âncias, mas para onde iria se o mundo inteiro estava degradado? O que se tornaria se as melhores opções eram as mais falíveis? Imperfeito, perdido, arrastou-se cadencialmente para um mundo escuro porém também fora lá que encontrara a mais brilhante luz.

Não eram nos papéis antigos e nos velhos pensamentos que o futuro da humanidade iria andar. Seria mestre de novas criações, novas mitologias, novos ídolos. Faria novas poesias, novos versos e gritaria novas palavras. Enquanto os bares se abarrotavam de jovens buscando a liberdade, seu sentimento de liberdade havia sido descoberto e estava nas mais simples coisas e nos pensamentos mais profundos.