O DRAMA DA VIDA PÚBLICA XV

ZAQUEU NO BANCO

Naquele dia Zaqueu estava mais amargo do que chimarrão de colônia. Soltava chispas pelas ventas, dava murros na mesa e soltava os cachorros em qualquer um que chegava perto. A coisa realmente não ia lá muito bem na família dele. E que família tinha o homem: — duas esposas, uma porção de raparigas que ele sustentava, um bando de cabos-eleitorais, uma cambada de puxa-sacos e mais de cem funcionários que ocupavam cargos-fantasma.

O dinheiro estava mais curto do que coice de porco e o bolso mais vazio do que bucho de pobre. Ele precisava arranjar dinheiro de qualquer modo, e o jeito era pedir empréstimo ao banco.

O gerente, sujeito esfolado tipo lombo de jegue, jamais emprestaria um só níquel a um velhaco como Zaqueu.

O prefeito encabulado, injuriado pelo desmando que o fez perecer, aden-trou à agência do banco e deu boca dura.

— Juros caros pra dedéu eu não pago!

— Quais juros? — indagou o gerente.

— Ora, do empréstimo que vai me dar.

— Mas quem disse que lhe darei algum empréstimo?

— O senhor é obrigado, eu sou prefeito dessa joça!

Zaqueu ficou ainda mais furioso. Parecia um boi no tronco para ser capado quando o gerente perguntou:

— Quais as garantias que me dá, caso eu lhe faça o empréstimo?

— Minha palavra, ora!

A palavra de Zaqueu, naqueles tempos, era mais mentirosa do que papo de velório. Não servia nem para convencer cego que já era dia. Suas garantias eram tão irreais que até pareciam as estórias do Hamynthas.

— Não prefeito. Não é possível. O senhor não tem cadastro suficiente, e de sua conta voltam mais cheques do que são pagos. É melhor o senhor procurar outro meio de conseguir dinheiro — desenganou-lhe o gerente.

— Então aumente meu limite!

— Não posso, seu limite está na tampa.

— Não tem saída mesmo?

— Infelizmente, não — confirmou o gerente.

— Então me dê um cafezinho.

— Não tem café, a cozinheira não veio hoje.

E lá estava o Zaqueu querendo dinheiro para pagar a um agiota que estava esperando lá fora. Ele estava mais amargo do que jiló temporão, andava de um lado a outro mais preocupado do que pai de moça nova.

— Tem porta pelos fundos — perguntou.

— Sim, claro. Por quê?

— Essa é a única saída que tenho.

Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 23/08/2011
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