Eu adoro citações

Eu adoro citações

Quem plantou em mim o gosto pelas citações foi o Rubem Alves. Metade dos seus últimos livros é composto por frases de terceiros. Ele recorre muito a elas. Lembro-me que foi através de sua leitura que conheci Adélia Prado. Ele também adora citar ao vivo, nas entrevistas. Entra no Youtube e procure por ele. Beirando os oitenta, é ainda bem esperto, danadinho, diria. Às vezes ele dá uma pausa longa na fala, como se estivesse matutando a citação, e ela vem, acompanhada de uma avalanche de metáforas ricas.

Ah, sobre as metáforas: elas têm um valor tremendo. Despertam a alma. Foi ele mesmo quem disse que as metáforas valem mais que um livro de trezentas páginas, e é verdade. Há em nós algo escondido no mais profundo de nosso ser que reconhece o valor das pequenas coisas - e das pequenas frases - ativando repentinamente os mais perfeitos mecanismos de captação existencial, e são as metáforas as melhores iscas, os melhores combustíveis.

Até hoje acho graça da comparação que o velho Rubem fez entre a inteligência e o pênis. Ambos são órgãos flácidos e tristes, mas quando estimulados se transformam em foguetes intergaláticos que soltam fogos de artifício.

Citações conferem status. Quem nunca leu Clarice Lispector? Nem precisa, os murais do Facebook estão cheios dela; Mario Quintana? quem vem de outro país imagina ser o mais lido autor nacional, põe Paulo Coelho no chinelo em termos de venda. O mais bacana do Mario Quintana é a atribuição de poemas da dona Creuzilene a ele, e todos leem e repassam. Colam nos murais de escritório e em arquivos de Power Point.

Para dizer que nem tudo são flores: Já li uma citação da “Clarisse Lispektor”.

Continua.