MUITA MERDA PRA VOCÊ

Quinto livro do qual eu era co-autora. Lançamento marcado – hora de divulgar nas redes sociais e convidar aos amigos. Assim foi feito. Muitos retornaram felicitando, outros confirmando presença, mas teve um que fora muito estranho, pra não dizer que me tirara do sério, melhor, açulara todo o meu sistema “raivotemperamental”.

Não era para menos, quem já se viu me desejar merda num momento tão especial! Como se não bastasse, me desejara muita merda! Puxa! Ele era um produtor cultural ao qual eu tinha muito respeito, inclusive, algumas vezes se mostrara interessado em produzir meu próximo livro. Embora ele fosse da cidade “Planalto”, não me parecia está no meio das sujeiras.

- *Maltides! Isso, Mal-ti-des! Vou contatá-la, ela é sua prima e minha amiga, vai descobrir o porquê dessa ofensa. Assim o fiz e, coitada da Maltides, não sabia se me pedia desculpa pelo primo, ou se começava a investigação. Ela ficara tão agnóstica quanto eu, parecia que estávamos falando de outra pessoa, não de meu amigo e seu primo.

Qual mesmo o Santo que se deve recorrer numa hora dessas, hein? Bem, eu nem pensei em Santo, eu estava mais propensa a um diabinho (rs), mas a Maltides, não! Ela recorreu ao Santo Universal. Não! Não é Jesus Cristo, deixa o Cara fora dessa... Também não é propaganda, mas que o Santo Google ajuda, ajuda!

O telefone tocara e – Maltides! Por favor, amiga, porque ele fez isso comigo? Eu sempre o tratei bem, ele queria até produzir meu próximo livro, diz que foi um engano, diz... Maltides ria copiosamente e eu ficara mais confuso que sempre. – Eu também te desejo muita merda! – dissera Maltides num tom firme, mas camarada! Pensei em desligar o telefone, mas ponderei.

Maltides, ainda controlando o riso, me diz que encontrara o significado da expressão e que ele teria me desejado sorte. Isso mesmo! É assim que se deseja sorte no universo do teatro. No geral, dizem que a expressão é oriunda da França, mas há quem diga que é da Grécia Antiga. Em ambos os casos, a merda era o que indicava o número de expectadores em uma apresentação de teatro.

Depois dessa confusão toda, fui eu quem gritei em bom tom uma merda que, com certeza, não tinha o mesmo significado da proferida pelo meu amigo. Se eu contei a ele?! Ah, tomara que dessa vez ele não me leia.

Ivone Alves Sol

*Nome fictício