T !!! P !!!! M :'(

Acordo em uma preguiça gostosa. Com calma. Hoje é sábado. Começo a me espreguiçar para tirar o sono do corpo. Eu me alongo para a esqueeerda, para a direeeeita... pronto! Sinto aquela pontada na barriga. “Conheço essa sensação muito bem”, penso comigo. É a cólica! Agora, neste exato instante, começa a nascer meu mau humor.

Uma reação em cadeia, que se inicia no ventre e vai subindo uma quentura raivosa pela espinha até estampar no meu rosto uma vermelhidão irada. Neste ponto, meus hormônios já estão loucos. Não sou mais eu. Sou outra. Possuída pela TPM!

Decido caminhar no parque. Talvez o contato com a natureza ajude. O sol brilha forte. O céu é de um azul vivo enfeitado com poucas nuvens estupidamente brancas. Lindo? Não! Logo hoje esqueci meus óculos escuros. Simplesmente não dá para admirar a paisagem se preciso ficar o tempo todo forçando os olhos para me recuperar dessa claridade.

Esse calor está me irritando! Entro no carro para dirigir até o cinema. Quando sento no banco do motorista, sou rapidamente tomada pelo bafo quente. Ligo o ar condicionado no máximo. Mas a indústria automobilística só pode mesmo estar de brincadeira comigo! Em que mundo esse vento artificial é frio o suficiente para esse forno aqui dentro?! Melhor abrir a janela. Dois segundos de brisa, entra um cisco no meu olho. Óbvio!

Dirijo o resto do trajeto com metade da visão comprometida. Finalmente chego na porta do cinema. Encontro uma vaga depois de sete voltas no estacionamento. De longe, enxergo meu namorado. Ele sorri, abre os braços para um abraço, mas eu não retribuo. “Já pegou os ingressos?”, vou direto ao ponto. Caminhamos em seguida para ele comprar pipoca. “Quer também?”, ele pergunta. Mas eu rejeito.

Imediatamente percebo seus olhos me encarando. Ele respira fundo e se arrisca: “TPM?”. Que porcaria é essa? A pessoa não pode dizer não para uma pipoca e já vira motivo para interrogatório? Tem alguma lei que me obriga a comer esse poço de fritura gorda que se finge de milho?! Mas ele insiste: “É TPM, não é mesmo?”

Ele está certo. Eu admito. Escolhemos nossas poltronas e esperamos as luzes se apagarem. O filme é comédia, mas eu não estou rindo. No final, vamos direto para o carro, mas antes de entrar ele questiona com coragem “Está de mau humor, né? Prefere que eu volte para casa e te deixe quieta?”

“O que significa isso? Se estou de mau humor não mereço companhia? Será que sou tão insuportável que não dá para ficar algumas horinhas do meu lado? A gente mal se vê durante a semana! Hoje é sábado! Nossa chance de passar mais tempo juntos. O que é? Está pensando em terminar comigo? Eu sabia! Você nem insistiu para eu te beijar quando eu cheguei! Você não me ama mais! Confessa!”, eu surto.

Em algum momento no meio do meu discurso, nem percebi, eu já estava chorando. Mil lágrimas de puro sofrimento. Sequer entendo de onde surgiu tanta tristeza. Por que estou sentindo como se tudo estivesse tão errado? Ele só riu e me deu um abraço apertado. “Mulheres...”, suspirou. Duas esquinas depois, comprou um sorvete de chocolate, me deu e disse: “Te amo, mesmo quando você não é você”.