NOTOU A DIFERENÇA?

Tem gente que parece que gosta de deixar os outros constrangidos. No fundo, creio eu, querem saber, mais uma vez, que não tem muita importância:

- Lembra de mim?

Alguém em evidência qualquer um lembra. Acontece que, normalmente, é aquele indivíduo que você não vê há anos, que foi um colega de aula ou trabalho chato, que fez falta alguma não ter visto. E ele quer saber se continua inesquecível.

Uns lembram que o homem não pode deixar de notar a mulher de roupa nova, quando ela chega do “instituto de beleza”, aquele detalhe “que ela aprontou pro maridão”. Este, seguidamente, pensa que, há muito tempo, ela não gosta de homem. Se gosta, o homem certamente não é ele. E assim, para muitos, cumprem-se os protocolos cotidianos.

- Vou ter que me pintar de ouro, qualquer dia, Gustavo?

- Não, por favor, não, mais uma conta e estarei mais quebrado.

O Gustavo é um sujeito boa gente, passou dos quarenta mas mantém alguns traços da juventude, ainda que o cabelo tenha caído, quase todo. Sobraram alguns poucos fios nas laterais e outros na região da nuca onde a pressão alta faz doer. Raspa o cabelo como quem faz a barba. O máximo de comprimento que o cabelo alcança é o de uma barba de dois dias que deixa aparecer alguns toquinhos de cabelos brancos. Se bem que, pensando bem, o estilo jovial está mais para os momentos em que sai de casa.

Dia desses, a cunhada percebeu que o Gustavo chegou de óculos novo. Não muito diferente do anterior, porém, novo, coisa de se notar sem fazer muito esforço. Chamou a irmã e ressaltou que havia algo diferente no Gustavo.

Esta, olhou o marido de cima a baixo, raciocinou, chegou mais perto, fixou o rosto do mesmo, de um lado, de outro, de baixo, de cima:

- Pintou o cabelo?