A força dos sonhos

Tenho andado meio sem inspiração nos últimos dias. Sabe quando tem um monte de coisas dentro de você querendo sair, mas que você não consegue vomitar? Pois é, escrever é mesmo como vomitar. Quando estamos enjoados por algum motivo: um vírus, uma bactéria, uma comida que nos fez mal... a gente só consegue se sentir bem quando vomita e põe aquilo tudo pra fora. Escrever é ruminar os sentimentos. Viramos bovinos, meus amigos... vomitamos tudo, botamos tudo pra fora pra depois digerir e engolir novamente.

Eu tenho essa coisa: me esforço todos os dias, de uma forma insana, para não aceitar que meus sentimentos são todos frutos dos meus sonhos. Sou dessas pessoas viciadas em sentir e acredito que a vida é isso: uma ciranda de sentimentos e sonhos que fazem a nossa vida ter verdadeira cor.

Esse ruminar de sentimentos em que se tornou a minha vida tem me deixado com dor de cabeça... as vezes fica difícil admitir que a vida da gente foi inteira construída em sonhos que se frustraram. Sonhos que tivemos de construir para tentar prever um futuro bom, mas que não deram certo porque pouco tinham de realidade. Na verdade, pouco tinham de nós.

Nos últimos anos mudei de personalidade como quem troca de roupa. Criei personagens diferentes de mim mesma, que agradavam tanto aos outros que hoje eles têm dificuldade de aceitar meu verdadeiro eu. A trancos e barrancos voltei a ser a mesma pessoa de sempre, nem santa, nem pecadora. Deixei de desejar agradar aos outros sem pensar em mim, no que eu quero, no que eu acho bom.

Tudo bem, vivemos em uma sociedade em que sempre há que se dar satisfação a alguém. Sempre haverá alguém para quem teremos que contar sobre nossas coisas, entretanto isso não significa que você precisa ser quem as pessoas desejam que você seja. O que o outro espera de você é problema dele! Corresponder ou não a essa expectativa não deveria ser uma dor de cabeça para você. Corresponder às próprias expectativas, pelo contrário, é a única coisa que deve estar em nossa mente todo o tempo. Não digo sobre sucesso, sobre carreira, ou sobre qualquer outra coisa que envolva as satisfações que devemos à sociedade. Estou falando de caráter.

Eu suportaria muitas coisas dessa vida, mas com certeza não suportaria ser a causadora da minha própria infelicidade. Não suportaria ir contra meus conceitos, não suportaria fazer qualquer coisa que fosse contra a minha busca pela felicidade. Nada tenho a ver com preconceitos, nada tenho a ver com hipocrisia ou falso moralismo. Nada tenho em mim de falso. O que eu digo que penso, realmente penso! O que não me impede de mudar de opinião.

Personalidade forte, verdade na vida e compromisso eu só tenho com Deus e com a minha consciência. Não acho digno fingir ser uma pessoa que não sou. Não acredito em pessoas que dizem querer sair do erro, e que, no entanto, nunca saem. Se você identifica seus defeitos e sabe que eles te prejudicam, então mude. Se não muda é porque não tem caráter, ou mente tanto que acabou acreditando ser o que diz ou pensa ser.

Quando você finge ser algo que você não é sua vida vira uma bola de neve nas ladeiras do destino. Quem mente para a própria consciência não consegue suportar o peso da própria mentira, simplesmente porque ninguém consegue sustentar um personagem por muito tempo.

E para sair desse tipo de situação infeliz em que nós mesmos somos os causadores da dor, só há um jeito: libertar-se do personagem. E a libertação é inconstante, gradativa e de dentro pra fora. A libertação tem mais a ver com nossa aceitação. É que às vezes a gente se esforça tanto para agradar aos outros que acaba saindo da forma que modela o nosso próprio caráter.

Anja do tempo
Enviado por Anja do tempo em 28/08/2011
Código do texto: T3187713
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