Meu sincero pesar

Meu sincero pesar

Hoje estava analisando a vida do jovem moderno, e cheguei a conclusão que nem todas as mudanças foram positivas para os jovens.

Quando eu tinha 12 anos comecei a trabalhar como ajudante em uma escola, passava meu dia por ali, entregando trabalhinhos, arrumando merendinhas, recebendo e dando muito carinho as crianças e no início do mês seguinte, recebia meu pagamento, com todas as moedas que me haviam prometido, e para mim não havia dia melhor, comprava balas, brinquedos, roupas, fazia um agrado aos meus irmãos e a minha mãe, e pra mim , era uma motivação a não chegar atrasada, a ajudar ainda mais a professora Rosângela a quem eu auxiliava, e em nenhum momento meu rendimento escolar caiu ou fiquei cansada para ir as aulas de inglês que freqüentava no final da tarde, após o expediente.

Hoje os jovens ficam o tempo inteiro plantados no computador, e não podem trabalhar com menos de 18 anos, mas, se cometerem um crime, não podem ser presos.

Quando eu era criança, sofria o que hoje chamam de Bullyng, mas ao mesmo tempo era uma das maiores praticantes do mesmo, mas as relações eram pessoais, com contato, nós crianças, brincávamos, chorávamos, ríamos, ficávamos com raiva, xingávamos a mãe e a vovozinha, mas no dia seguinte ainda éramos amigos, nossas armas eram no máximo uma pedra, nunca uma arma de fogo, ou uma faca, e no dia seguinte estava tudo bem entre todos, não enviávamos scraps, mas fazíamos lindas cartas de amor, muitas anônimas ou assinadas com pseudônimos , onde sempre um fofoqueiro dizia de quem eram, gostar era comum, paquerar era comum, ficar não existia, pois até ficar eram meses de paquera, e quando o beijo era consumado, pronto, a paixão já se instalava e era inevitável virar namoro.

Hoje as relações são quase que cibernéticas, namoros por sms, catuque pelo facebook, bloqueio pelo Orkut ou MSN, e o pior de tudo, nosso estado civil na rede, hoje solteira, amanhã casada, depois de amanhã, em um relacionamento aberto, tenho uma amiga que separou-se do marido porque ele colocou no Orkut, em um relacionamento aberto, acredita nisso¿

As relações eram reais, as pessoas de carne e osso, com Ira, paixão, amor, deboche e ninguém ficava com raiva de ninguém, meu apelido era pata, pois quando perdia uma brincadeira, amarrava o maior bico, mas eu também colocava apelido em todo mundo, e os que eu colocava sempre pegavam.

Hoje em dia, os pais não podem bater nos filhos, confesso que nunca bati em minhas filhas, mas, já apanhei horrores e nem por isso tenho qualquer trauma ou raiva dos meus pais, minhas filhas não apanham, porque mal podem aprontar, o que elas podem fazer se vivem em uma geração enclausurada pela tecnologia de um lado e pela violência do outro¿

Eu apanhei, e muito, mas eu aprontei e mereci todas as palmadas que levei, porque eu fui criança, eu caí de árvore, eu taquei pedra no carro dos outros, eu quebrava um osso por mês, eu conseguia levar 11 amigos em uma única bicicleta, eu manchava as colchas da minha mãe para pegar Jamelão na casa de um vizinho, aliás, um dia eu soltei o macaco dele que me olhava com olhar triste e eu fiquei com pena e o mesmo me atacou com uma mordida no braço , eu corri, suei, me ralei, chorei, sorri, rasguei roupa, enfim, eu vivi, eu fui criança... e hoje eu lamento pelos jovens que não podem fazer o mesmo, não podem crescer com as justas lamentações infantis que um dia viram sermões e só sabemos disso quando crescemos e já passamos por elas.

Aos jovens de hoje, meu sincero pesar, vocês mereciam um pouco mais da vida!

Izabelle Valladares Mattos
Enviado por Izabelle Valladares Mattos em 29/08/2011
Código do texto: T3189650
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