NÃO TÃO DE REPENTE ASSIM 50!

Você está no seu sofá tranqüila, vendo seu programa favorito, dona de si, linda e loira, de olhos azuis, achando que nada mais te abala porque afinal você derrotou a crise dos 40.

Quando olha para trás pensa que se preocupou em vão, que o povo exagera descrevendo a crise dos 40 como um bicho de sete cabeças, uma fase pra muita terapia, fase da loba, do condor, etc. Mas no fundo não era tudo isso. Você até que superou rápido e com louvor as intempéries do período. Tudo aconteceu de maneira branda, bem mais fácil do que você esperava.

Ok, mas aí vem o quê? Vem o quê? A crise dos 50!

Ah meu bem! Agora sim você encontrou páreo pra sua resistência.

É quando você se lembra porque achou a crise dos 40 fácil, só há um motivo: já deu tempo de esquecer a parte ruim. Feito aquela idéia de engravidar depois que o filho está com uns 5 ou 7 anos de idade. Só depois dos enjôos, do inchaço, da roupa que não serve (nem a calça de agasalho do marido entra), dos tênis que você não consegue calçar, das dores nas costas, das noites mal dormidas tentando encontrar posição na cama, dos baixos e altos da pressão arterial é que a mulher se pergunta: onde eu estava com a cabeça?

A crise dos 50 é pior, já que você não escolhe passar por ela. Ela vem queira você ou não.

Sua libido vai pro saco, a parte do seu corpo que ainda resistia bravamente à força da gravidade despenca de vez, seus cabelos ficam branquinhos feito algodão, que bonitinho! Só falta alguém sugerir que você deixe na cor natural e passe rinsagem, pro cabelo ficar lilás feito o daquela sua tia do interior. Fofa ela!

Não tem mais nenhum desconhecido que te chama de “você”. O segurança do shopping aponta uma vaga de idoso no estacionamento. Todos te dão lugar no metrô, deixam você passar na frente dizendo: “Senhoras primeiro, pessoal!” e acham que estão sendo gentis.

Seus filhos nessa altura já se casaram, a casa fica vazia, sobra só o cachorro e o marido. Isso se sua filha não levar o cachorro. E você ainda tem que administrar a crise de tio sukita do seu marido.

Até então você só cumprimentava de longe a osteoporose, a menopausa, a secura vaginal, a artrose. A partir dos 50 você vira amiga íntima de quase todas elas.

Acha antipática a palavra idoso. Descobre que crise de tensão pré-menstrual era fichinha perto do grau de irritabilidade que você consegue atingir agora. Vai de 0 a 100 em 3 segundos e ninguém te associa a uma Ferrari.

Ri, chora, fica introspectiva, tudo ao mesmo tempo e passa a conhecer outra utilidade para o termo “transição randômica”.

Entra definitivamente no período não reprodutivo, sacanagem essa classificação, e fica p. da vida quando o médico pergunta: a senhora tem vida sexual ativa? Como assim! Eu só fiz 50 anos, não morri não!

E as rugas, ah as rugas! Você que achava que gostava de rugas por causa da música Bichos Escrotos dos Titãs.

Essa fase é terrível porque você ainda não tem idade suficiente para gozar dos benefícios da terceira idade, mas também não tem mais pique pra enfrentar as aventuras da vida como antes. É de pirar na crise mesmo, não tem cristã que agüente!

E no trabalho então. Haja paciência pra agüentar aquela estagiária de 18 anos, bonita, jovem, muuuiitoo jovem, falando dos seus problemas seríssimos, geralmente brigas com namorado, e de como engordou. Não pesa nem 50 quilos a desinfeliz. Aquele cabelo e aquela pele. Dá vontade de grudar no pescocinho dela e só soltar quando ela estiver bem roxinha. Adoro roxo!

Falando em cores, em se tratando de moda esta fase é um risco iminente. Se a mulher já tem um estilo digamos “efusiva”, mas um tantinho contida, pode se transformar de vez naquela coroa perua, com o armário cheio de estampas de oncinha e acessórios dourados. Abusa nos decotes, cadarços, renda e laços pra todo canto, peças que a sua sobrinha caçula usaria, por exemplo. Pior são as roupas apertadas, daquelas que parece que a figura pulou do guarda-roupa pra conseguir vestir. São as que ela pediu emprestado para a sobrinha.

Se é adepta de um estilo mais básico, de repente parte pra uma roupagem onde “menos é mais”, mas exagera no menos. Ou ainda se é do estilo sóbria vai pra produção “sou séria, me respeite”, ou seja, fica transparente, passa incógnita.

Ou ainda a criatura resolve promover uma mudança drástica passando do contido para o despojado demais, e usa em qualquer situação, parecendo sempre que a dita está indo pescar. Tem também a turma do demasiadamente moderado, tudo muito fechado, muito pálido, nude, bege, o tempo todo. Vamos combinar que é um porre.

Em alguns momentos o que dá mesmo é vontade de chutar o balde e sair gritando “dane-se o mundo, uso o que quero”. Eu sei, eu sei, mas não tem perdão, qualquer deslize no excesso é parente do ridículo ou da catástrofe. Nesse caso o melhor é respirar devagar e esperar passar o ímpeto. Você logo retoma a sanidade e percebe que é só dar uma reformulada no seu jeito de vestir de sempre. É bem mais garantido.

Detesta lugares com muitos espelhos, não agüenta parques de diversão e não vê graça em desfiles de lingerie. Tudo isso te deixa deprimida.

Passadas as fases de negação, raiva, barganha e depressão, enfim chega a aceitação. Na derradeira etapa você se convence de que pulou mesmo do manequim 38 para o 42 e isso é praticamente irreversível.

Se enche de coragem e marca sua primeira consulta no geriatra. Doa aquela camisa preferida que você incansavelmente nos últimos tempos tentou vestir, mas coerentemente desistiu, demorou uns 15 minutos pra tirar e perdeu uns trezentos gramas a cada tentativa. Sim, porque quando você coloca uma roupa apertada e sua de nervoso, aquela porra gruda no corpo e você quase desloca o ombro tentando tirar.

Já aceita melhor o som da palavra “avó”. Já não se incomoda quando outra mulher adulta lhe chama de senhora. Já sente saudades de quando todos te chamavam de tia.

Pesquisa tratamentos com hormônio masculino, vira fã número um da furfuril-adenina, dos ácidos retinoicos, glicólicos e outros alfahidroxiácidos quaisquer.

Faz sim cirurgia plástica. Compra sua primeira jóia cara e a bolsa de grife que você namorava há anos.

Viaja mais, vai mais ao cinema, ao teatro, curte mais as pessoas que ama. Vai nos bailes de terceira idade, o que é que tem?

E de novo segue em frente.

Não, não estou dizendo que é fácil, mas o fato é que mais uma vez provamos que ser mulher é ser soberana, ter fibra, ser valente, poderosa, enfrentar com a cara e a coragem todos os desafios! E que venha a crise dos 60!