O POETA, O CANTOR NACIONAL E A GOZAÇÃO!

O ano não lembro mais. A década era a de 1980.

Eu, escritor iniciante, com apenas um livro de poesias publicado, mas já de certo prestígio local; o poeta nacional Jorge Tufic; Edney Sander, cantor amazonense lançando seu primeiro LP; uma atração nacional, cantor de muito sucesso na época; e Ronaldo Tiradentes, Secretário Estadual de Comunicação.

Todos à bordo de um avião bi-motor, à convite do então prefeito de Maués, Carlos Esteves, fomos para a “Festa do Guaraná”. Dentro da aeronave, com vários paletós brancos sob o braço, Edney Sander, em sua primeira apresentação em uma festa famosa, começou a perguntar à atração nacional o que ele fazia para manter sua voz sempre em forma:

- Gargarejo com agua morna, respondeu.

- Mas isso dá certo mesmo?

- Lógico que dá e se eu fosse você, começaria a praticar agora mesmo!

Edney Sander entou no banheiro da pequena aeronave, colocou água na boca e começou a fazer gargarejo. Dentro do avião eu, Jorge Tufic, o cantor nacional e Ronaldo Tiradentes começamos a rir. O Jorge Tufic riu tanto que passou a sentir dor nas costas e o Edney Sander, dentro do banheiro, fazendo gargarejo, não sabia de nada, principalmente que o cantor de quem Edney Sander também era fã, estava tirando sarro dele. Deixando o banheiro onde tinha gargarejado por mais de 30 minutos, voltou a perguntar ao cantor renomado:

- Será que eu gargarejei o suficiente? Acha que preciso praticar um pouco mais, afinal, vai ser minha primeira apresentação! Por isso trouxe esses paletós. Você que já um cantor famoso, acha que serão suficientes?

- Acho que não! Acho melhor o amigo continuar fazendo seu gargarejo, afinal, o cantor se apresentará antes de mim e não deve fazer feio e nem pode ter problemas de voz – aconselhou o cantor famoso. – respondeu, mais uma vez tirando sarro de Edney Sander.

Descemos no Aeroporto. Um jipe do prefeito foi nos apanhar. Eu, Jorge Tufic, com certa dificuldade devido a dor nas costas, Ronaldo Tiradentes e o cantor nacional famoso entramos no jipe. Edney Sander, com seus paletos no braço, a maioria na cor branca, disse que não entraria, pois outro carro deveria vir buscá-lo. Como isso não aconteceu, o cantor amazonense foi até hotel reservado, acho que o nome era Ponta da Maresia ou algo parecido, caminhando.

O hotel era construído com uma escada lateral para quem decidisse subir para o segundo andar, mas sem qualquer cobertura. De noite, o Ronaldo Tiadentes decidiu preparar uma panela de caipirinha, construir uma barraca e ficar na praia pescando tucunaré – mas não sei se pegou algum.

- Acho melhor o amigo continuar fazendo seu gargarejo, afinal, você se apresentará antes de mim e não deve fazer feio e nem pode ter problemas de voz – aconselhou o cantor famoso.

E lá se vai Edney Sander para o banheiro continuar seu gargarejo. O poeta nacional Jorge Tufic, ainda sentindo dores nas costas, pediu uma massagista, no que foi logo atendido. Chegou uma enfermeira simpática para massageá-lo:

- Nunca fui massageado por uma enfermeira tão gentil antes! – disse o poeta.

- Também nunca havia massageado um poeta tão famoso – respondeu a enfermera!

Na hora do show musical, a praça lotada à espera da atração nacional, Edney Sander desceu do hotel com seus paletós e esperou o carro da Prefeitura que viria buscá-lo. O jipe mais uma vez nos apanhar e novamente o cantor amazonense se recusou a entrar no carro com seus paletós brancos. Entramos eu, o poeta, o cantor nacional e o secretário de comunicação no e fomos até o local onde haveria a apresentação musical, mas antes teria um concurso de poesias, no qual Jorge Tufic presidiria e eu seria um dos membros.

Terminado o show, o cantor nacional foi ovacionado; enquanto, o amazonense, que tanto se preparou, não conseguiu cantar nem as músicas de seu LP, os chamados “bulachões” pretos antes de antes da era dos CDs.

Colocou seus paletós brancos e não usados durante sua apresentação embaixo do braço, desdeu do palanque e novamente o prefeito mandou-nos buscar no jipe. Mais uma vez Edney Sander não entrou no carro e foi andando até o hotel. Chegou todo sujo de lama.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 03/09/2011
Reeditado em 03/09/2011
Código do texto: T3198871