Por que alguns adoecem mais do que outros?


Destino biológico, uma via de mão única?


A vida se manifesta em nós de forma absolutamente distinta. Somos biologicamente diferentes uns dos outros. Mesmo gêmeos univitelinos têm identidades bioquímicas e celulares diferentes.

Aliada à organicidade única, os indivíduos diferem também quanto ao temperamento e personalidade. Se expandirmos esse raciocínio, as muitas variáveis e possibilidades de combinação dessas características seriam infinitas.

Aonde quero chegar?

O que tento lembrar é que somos tão diferentes uns dos outros que me parece “non sense” pensar a Medicina de forma tão linear e ter fórmulas terapêuticas únicas para cada doença manifestada em indivíduos tão diferentes entre si.

Todas as áreas do conhecimento humano possuem uma dinâmica própria. Nenhum conhecimento é imutável, verdade absoluta para sempre. Mas especialmente a Medicina deve ser vivida como fonte de conhecimento que evoluiu tremendamente nas últimas duas décadas, mas que ainda acumula mais dúvidas do que certezas.
 
Aprendemos todos os dias vivendo a Medicina como ela é: uma arte! Arte de ouvir, questionar, intuir, descobrir,duvidar, mas antes de tudo, a arte de se comover tentando entender o funcionamento e ajudando o organismo a retomar o seu equilíbrio.

Sob esse aspecto, os consensos médicos atuais priorizam a universalidade estatística dos sintomas e sinais. Esquece de (antes de tudo) tentar entender como e porque aquele indivíduo (em especial) adoeceu.
 
A genética expõe as possíveis e prováveis áreas de risco, mas a imprevisibilidade da instalação ou não da doença depende mais (ou em igual proporção) do temperamento do indivíduo, das condições em que ele vive e do seu estilo de vida (ambiente familiar, clima, hábitos alimentares, atividade física). É o que a epigenética nos tem ensinado: que o determinismo genético não é a verdade médica absoluta! Como diz o ditado: “Há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia”. E a Medicina é um grande e complicado quebra-cabeças!
 
Mas a verdade é que estamos mais doentes do que nunca. Como já disse antes, vivemos por mais tempo, mas o custo tem sido alto. Câncer, diabetes, obesidade pressão alta e demência cada vez mais prevalentes entre nós. O que deixamos de ver ao longo do processo de aumento da expectativa de vida? O cientificismo médico tem nos proporcionado vida mais longa, mas...o mesmo não se pode dizer da qualidade de vida. O que deixamos de ver, nós médicos, enquanto nos preocupávamos em tratar infecções, normalizar pressões e taxas de açúcar de nossos assistidos?
 
Estávamos apenas tratando os sintomas resultado do adoecimento...que poderia ter sido evitado! Seria possível evitar (na maioria das vezes) ou pelo menos minimizar (em muito) a sintomatologia, além de personalizar cada vez mais o tratamento dessas mesmas doenças? Delírio demais? Temos realmente poder para mudar o nosso destino biológico? Mas, acima de tudo, queremos mudar e estamos (mesmo) dispostos a lutar contra nossos impulsos e necessidades de gratificação instantânea, o prazer acima de tudo?
 
Este é o cerne da questão, a meu ver. É tão mais fácil (e prazeroso) pensar (e agir) aqui e agora, viver hoje como se não houvesse amanhã... Estou falando dos erros alimentares, dos excessos da mesa e do apelo fácil do sedentarismo. A motivação tem que ser do próprio indivíduo. Mas a orientação básica e o estímulo necessário são tarefas do profissional da área da saúde.
 
A medicina psicossomática estuda a relação mente-corpo, mas ainda engatinha. E, enquanto não soubermos como cada um de nós, com personalidades e temperamentos diferentes pode (através do auto-conhecimento e da solução das suas questões emocionais) evitar o adoecimento físico, continuaremos a nos beneficiar das mesmas orientações gerais: dieta, exercício físico e manter ressonância com os bons pensamentos além das técnicas anti-stress.

Nesse sentido é interessante a matéria divulgada no jornal “O Globo” sobre stress e carga genética versus surgimento de doenças. Vale a pena ser lida!