PENSANDO O QUE SERIA PARA MIM: UM PROJETO LITERÁRIO.

Penso eu que qualquer exercício de escrita literária visando a publicação profissional requer uma maquinação (maturação) anterior e interior. É preciso um apoderamento lúcido das intenções, por parte do pensamento, para a concretude do exercício de “juntamento” das palavras. Nenhum projeto literário é “desplugado” das nossas intenções e dos nossos princípios/conceitos do que venha a ser: o fazer literário e o que queremos para e do leitor ao ler nosso(s) texto(s).

Este projeto literário alcança-se no decorrer da Vida, pela experiência acumulada na leitura e estudo da escrita dos Mestres de todos os tempos literários; no estudo dos conceitos/técnicas da Literatura que praticarmos (Ex. conceitos/técnicas do romance clássico, do romance moderno, da crônica, da prosa poética, da poesia clássica, da poesia moderna, etc.); e na experimentação das formas possíveis (clássicas e modernas) com o desenvolvimento/aprimoramento continuado dos nossos textos. Mas, lembremos: é preciso viver e viver intimamente nossos sentimentos humanos e sociais, para tornar a nossa escrita valorosa. Não existe Literatura sem alma! Nem só de conhecimento e técnica vive o escritor! Do domínio do conhecimento literário dá-se o principal e seguro passo para a escolha do gênero do livro (romance, poesia, crônica, etc.), das técnicas possíveis (clássicas e/ou modernas) para elaborá-lo e o público-alvo da obra.

Eu tenho as minhas convicções do que seja Literatura, concebo-a e pratico-a conforme o meu entender e as minhas leituras, filtrando o que me apraz ao ler e estudar outros escritores. Assim, meu caminho se dá. O olhar atento é a sentinela da Literatura. A absorção do conhecimento se dá em incansáveis incursões pelas obras de diferentes autores de diferentes Escolas Literárias e tudo sem preconceitos. No filtro da leitura que nos apraz se faz uma primeira lição. Algumas vezes, o talento sobrepõe ao que nos apraz e reverenciamos a leitura feita, sem necessariamente trazê-la para dentro de nossos escritos. Atenção! Algumas vezes, as influências sociais e as amizades incursionam o autor do texto que lemos, para o campo dos falsos elogios, ditos por outros autores, não correspondendo de fato ao valor do escrito lido. A experiência nos leva a distinguir talento de modismo e/ou influências sociais.

Diz o ditado: todo cuidado é pouco. A Literatura é uma traiçoeira: amiga, ela quer nos pegar e levar para o sonho dos píncaros da glória, e na efemeridade do tempo que por nós será vivido e da glória terrena acaba nos deixando a sete palmos da sepultura, após a morte. E jamais a qualidade virá. Nosso céu estrelado se apagará no dia seguinte ao nosso enterro. Só é grande quem se faz pequeno, diante do mistério indecifrável do que é realizar Literatura e do incansável processo de aprendizagem e de maturação literária; necessário do nascer do sol ao ocaso de cada dia, do despontar da lua até a aurora de cada dia.

Esqueçamos os bajuladores e os arautos da crítica em busca de renome. Avancemos para o nosso mundo solitário, silencioso e interior, longe do movimento das pessoas e das coisas, sem medo de sermos esquecidos em nosso tempo. O que importa a condecoração dos títulos e dos prêmios? Se não pudermos ao menos direcionar nossos escritos na estrada dos Mestres? O que importa se o vento for favorável hoje? Se amanhã vier a ventania e desabar a nossa obra no poço do esquecimento: merecido, pelo simples fato, de nos sentirmos preparados para os louros da fama, antes de sequer ultrapassarmos a primeira esquina? Esquina além do corriqueiro literário de quase todos, inclusive este que aqui escreve. Que tal esperarmos o nosso tempo de colheita?

Queremos ser escritor? Isolemo-nos do mundo, silenciemo-nos, sonhemos, vivamos nossa solidão e na nossa solidão: lemos e escrevemos. Queremos ser escritor? Abandonemos o Sistema posto e não aceitemos ser seu defensor, sejamos críticos e busquemos ser no anonimato: um aprendiz diário, através dos Mestres. Mestres? Ouçamos nosso coração dizer quem são! Não nos creiamos incapazes de escolhas. A contínua leitura, como já disse, nos indicará nossos Mestres. Não sejamos egoístas e digamos: - este é Mestre, mesmo que diversa a escrita do nosso gosto literário, porém, sejamos nós a escolher, através do conhecimento, os que consideramos Mestres. Todavia, não os bajulemos, nem os copiemos! Apenas entendamos que os Mestres são humildes e batalhadores e fontes seguras do aprendizado literário. Sejamos, dentro do possível, inéditos! Guardemos esta ideia: a Literatura não precisa do momento da fama. Lembremos sempre: a escrita literária é um contato íntimo com a Vida e com todas as vicissitudes que nela se apresentam. Como frisei antes: não existe Literatura sem alma!

Escrevamos pouco (ou pouco a pouco). Leiamos muito. Corrijamos demais. Publiquemos de menos. Abandonemos a pressa. Abocanhemos a vontade da perfeição, mesmo que esta nos seja um tanto distante e inacessível. O perfeito não é tudo, mas o apressado não chega a lugar nenhum. Se quisermos ter algum valor, cresçamos aos poucos. Ninguém alcança algum valor da noite pro dia. Excetuando é claro, um ou outro gênio da história humana, que pouco viveram, mas nasceram capacitados de uma inteligência incomum, como por exemplo: o poeta Álvares de Azevedo e seus pouco menos de 20 anos de vida. E não esqueçamos nunca: quase todos nós, os outros, precisamos “ralar” muito para minimamente acertar.

Pensemos: publicar um livro é uma responsabilidade e tanto, deixemos que a maturidade literária nos leve a aceitar esta possibilidade e a buscar tal intento. Muitos foram os escritores de renome a renegar as obras iniciais, até Mário de Andrade, assim fez, com o seu livro de 1917: Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema. Assim, também, fez Francisco Carvalho, grande poeta cearense e um dos maiores poetas brasileiros vivos, ele renegou seus 4 (quatro) primeiros livros, dizendo literalmente: - (…) são mais do que péssimos.

Penso ser justo darmos aos nossos leitores em livro solo: o melhor de nós. Busquemos aprender a hora certa de publicar nosso primeiro livro nas postagens na internet, pedindo críticas de pessoas abalizadas, também, do leitor comum, e buscando filtrar das críticas feitas aos nossos textos, os caminhos para nosso crescimento literário capaz de nos levar ao livro solo.

Deixo uma pergunta: muitas vezes um escritor publica seu livro e quase ninguém percebe ou se interessa pelo escrito, não é verdade, recantistas queridos? Será que não é nossa culpa esta situação? Pela inexistência de qualidade literária da obra publicada? Obra, ainda, incapaz de encontrar seu público leitor cativo?

Deixo outra pergunta: será justo creditarmos a pouca venda de um livro por nós editado aos dois velhos chavões: 1) os brasileiros não leem e nem compram livros; 2) e os editores não se interessam por nossos textos. Livros por nós editados e encalhados em estantes da nossa casa, no depósito das editoras ou jogados às traças de um sebo?

Abraços,

Galera querida,

Alexandre!