ZAQUEU NO PARAGUAI

Zaqueu demorou para descobrir que, no Paraguai, as coisas eram bem mais baratas do que nas lojas de Viruslândia. Descobriu ainda que todo mundo fazia compras lá, e deixavam os impostos sem serem pagos quando traziam muambas para vender aos otários. Foi até a loja do Joaquim, português medonho nas facadas, fez uma listinha do que precisava, depois partiu para o país vizinho. Chegando lá, comparou os preços, cobriu o português de xingamentos e encheu a sacola.

De volta, parou na aduana por insistência do guarda, desceu do carro, o qual comprara com as facilidades do Plano Real, e ficou esperando. O aduaneiro, armado feito Rambo, abriu-lhe o portamalas e encontrou toda parafernália de armas, brinquedos, eletrodomésticos, componentes para computadores e uma montanha de bugigangas.

— O senhor excedeu o limite, preciso apreender as mercadorias.

— Não pode, seu guarda, sou prefeito de Viruslândia e comprei tudo com o dinheiro do povo.

— Não interessa de quem era do dinheiro, e levar armas é proibido! — insistiu o homem.

— As armas são para os guardas municipais — corrigiu o prefeito.

— Guardas municipais não andam armados e as notas estão em seu no-me.

— Prefeito e Prefeitura é a mesma coisa.

— Só se for em Viruslândia, pois aqui é coisa diferente — atalhou o aduaneiro.

E a discussão foi se alastrando, deixando a aduana com uma fila enorme, até que Zaqueu resolveu negociar.

— Quanto?

— Quanto o quê? — indagou o guarda.

— Quanto o senhor quer para deixar-me passar?

— O senhor está querendo me subornar?

— Claro. Claro que não; somos dois homens honestos.

O guarda olhou para os dois lados e Zaqueu esfregou as mãos uma na outra: “essa tá no papo”! — murmurou.

O guarda voltou-se para ele e disse:

— O senhor pode pagar os impostos e as mercadorias passarão a ser lícitas, menos as armas que devo apreender de qualquer modo.

Zaqueu ficou mais confuso do que mosquito em teia de aranha, deu um chute da roda do carro e blasfemou.

— Seu filho da . . .! Pensa que me engana? Quer essas mercadorias para vender, não quer?

O guarda subiu o apito à boca e desfechou o alarme.

— O senhor está preso! — falou com voz segura.

— Qual é a acusação?

— Contrabando.

— Sou um sacoleiro como todo mundo.

— Sacoleiro é aquele com compra dentro da quota, o senhor é contrabandista.

Hamynhas Mathnatha
Enviado por Hamynhas Mathnatha em 06/09/2011
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