BERINJELA NÃO É FRUTA

Naquele dia Zaqueu, para enguiçar com a empregada, resolveu fazer sua própria lista de compras. Mas, Getulina, moça que viera da roça para trabalhar de doméstica na casa do prefeito, pensou que o emprego fosse tão sério que aprendeu até latim. Quando recebia a lista de compras sempre corrigia a escrita e deixava Zaqueu em pé de guerra.

O bilhete dizia o seguinte:

“Getulina, precisa ir ao mercado comprar: sebola, quejo, muçarela, xocolate, prezunto, mortandela, aseite e alfasse. Não adianta tentar me corrigir até eu ficar bravo, depois vem me puchar o saco!”

Getulina, moça de boa gramática, segurou o papel na mão esquerda e leu com a direita. Pegou a caneta, mais que depressa e remeteu outro bilhete ao prefeitasso.

“Senhor Zaqueu, não entendi direito o que é que o senhor quer comprar; mas imagino que seja: cebola, queijo, mussarela, chocolate, presunto, mortadela, azeite e alface. E puxar se escreve com x”

Zaqueu ficou puto da cara, agonizava de bravo. Dias depois precisava comprar outras coisas, chamou pela secretária na prefeitura e disse:

— Estou precisando de umas berinjelas para fazer remédio para o rim, e não quero ser corrigido pela empregada. Berinjela escreve-se com gê ou jota?

— Sei não. — respondeu a moça — Por que o senhor não escreve: compra um quilo daquela fruta roxa, que ela entende.

Zaqueu aplaudiu a grande idéia, depois escreveu:

“Getulina, vá ao supermercado e compre dois quilos daquela fruta rocha para eu fazer remédio!”

Getulina foi ao supermercado, comprou dois quilos de berinjela, mas não se agüentou. Mandou outro bilhete ao prefeito:

“Senhor Zaqueu, fui ao supermercado e comprei dois quilos de berinjelas. A propósito: berinjela se escreve com jota e não é fruta. Outra coisa, roxa se escreve com x, não com CH”.

Fora as correções que iam e vinham por parte da doméstica, o relacionamento com Zaqueu ia muito bem. A coisa pegou mesmo fogo foi no dia do pagamento da moça. Zaqueu pagou-lhe com dois cheques de trinta, pois não sabia escrever sessenta, depois perguntou:

— O que vai fazer com o dinheiro?

— Vou comprar uma boa gramática para o senhor.