COMO É BOM ESTAR AQUI

Esta crônica eu escrevo sentada no pequeno patamar de uma janela de porão.

Aqui tantas vezes me sentei para pensar na vida.

Ao meu redor vejo flores, folhagens, um pé de acácia com as últimas flores da primavera que findou.

Uma espirradeira alta com poucas flores. Um gramado antigo.

Vejo lágrimas de Cristo subindo pelo caule de uma árvore. Exuberante em sua beleza a trepadeira se abraça carinhosamente ao tronco.

Um jasmineiro coberto de botões que não verei desabrochar.

Roseiras floridas, na sua maioria vermelhas.

Antúrios, beijinhos e outras flores mais.

Bem à minha frente três coqueiros com suas folhas rasgadas, com seus cachos de frutos. Tão altos já.

Penso que são um pedacinho de outras paisagens num quadro que não se alterou em anos.

Recordo quando meus pais trouxeram as mudas, anos atrás.

Coqueiros não se enquadram muito às paisagens bucólicas; lembram mar, nordeste.

Talvez meus pais tenham pensado em trazer um pouco do mar que amaram, das praias lindas que conheceram para dentro de seu quintal.

Posso ver ainda uma jabuticabeira onde canta um tico-tico, com seu canto tão silvestre que me emociona sempre.

Vejo também o ipê crescido, coberto por ramagens de chuchu e maracujás.

Fico cismando se devo pedir a alguém que desafogue a bela árvore dessas trepadeiras. Penso que podem destruí-la aos poucos.

Vejo também daqui um pé de café, único que restou de outros tempos? Preciso lembrar-me de verificar se sobrou mais algum.

No ar fragrância de flores e cheiro de mato que vem das chácaras que existem na região.

Pequenos micos costumam freqüentar esse quintal e não pude ainda vê-los nestes dias que estou aqui.

Borboletas quase me tocam e beija-flores se aproximam sem medo.

Deus! Como amo esta casa!

É tudo tão parecido com o que foi há vinte, trinta anos.

Gosto de me sentar nos mesmos lugares onde me sentava outrora e chego a esquecer que o tempo já passou.

Minha mãe tem mil razões para amar este lugar e não desejar se afastar daqui.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 17/12/2006
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T320515
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