Traidora!

Preciso admitir: fui sempre muito infiel. Ainda sou... Mas não ajo de má fé, para magoar. Traio meu amor pois tenho também tantos outros amores. Tento evitar o quanto posso, mas há um sentimento sincero que me inunda quando os vejo. Juro. Porque são tão diferentes entre si e me atraem com essas variadas intensidades, seus sabores particulares, saciando os desejos que eu luto para ignorar por horas, dias, meses.

Às vezes, para ser sincera, minha fraqueza nem parte do coração. Vem de um impulso incontrolável, um desejo que explode mais embaixo. Quando percebo, já estou flertando, mandando sinais de que o quero. Eu me aproximo como que por hipnose, sentindo aquele perfume irresistível.

Podem me chamar de monstro. Até peço perdão. Entretanto, quem é como eu me entende. Não há força de vontade que se mantenha firme se por onde ando me deparo com essas tentações. Eles me olham, me chamam, me seduzem. Atacam meu coração e meu estômago. Em uma esquina é um frango frito paquerando comigo. Na outra, um chocolate meio derretido.

É impossível escapar para sempre. Uma hora, caio na armadilha! Eu sei... lá em casa está meu porto seguro, o amor com quem me casei e a família que formamos. Eu, o peixe cozido, o chá verde e as saladas. Todo o grupo Fat-free unido. Mas na rua estão os outros, as delícias proibidas, as aventuras inconsequentes que me laçam numa gravidade indesviável como um forte ímã.

Crepe de nutella. Costelinhas. Egg-cheese-burguer com bacon. Bolo de banana. Picanha mal passada. Caipivodka com muito açúcar. Biscoito bono. Shake de flocos. Macarrão com farofa. Pizza! São tantos os meus amantes...

Como não trair?