CARTA DE UMA BRASILEIRA
 
(OU HINO DA INDEPENDÊNCIA COMENTADO)


     Sinto dizer, mãe querida, mas nós, "os filhos da pátria" ainda não podemos vê-la contente. Embora tenha raiado a liberdade nas terras tupiniquins, a "brava gente brasileira" - que convenhamos - nem é tão brava assim, continua subserviente e hoje teme outras ameaças.
     Não se morre mais pelo Brasil por coragem ou patriotismo, mas no Brasil se morre às pampas: de bala perdida, na fila do SUS, nas enchentes, de assalto à mão armada, de fome, de frio ou em tiroteios, em plena luz do dia.
     Ainda não nos livramos daqueles "grilhões que nos forjavam". Apenas foram substituídos por outros, tão astutos e ardilosos quanto e atualmente continuamos à mercê de suas perfídias. Quem tem dinheiro manda e desmanda nessa terra de ninguém. E posso lhe garantir, minha mãe, que hoje em dia não há "mão mais poderosa" por aqui. 
     Se antigamente o povo brasileiro estava em condições de zombar de alguém, hoje somos alvo de zombaria, principalmente quando o assunto é corrupção, lavagem de dinheiro ou dólares em cuecas.
     Falanges continuam atacando por aqui, sejam elas impias ou não. Quando aparecem, é um tal de "salve-se quem puder" pois continuam amedrontando e revelando a hostilidade de suas faces.        
     Seria demais esperar que nossos peitos e nossos braços, fracos e desnutridos, ainda servissem como muralhas. O "garbo juvenil" foi-se com o passar dos anos e até tu, mãe gentil, perdeste muito da frescura e vigor de outros tempos. Apesar de tudo, ainda "resplandeces entre as nações" do universo, mas uma coisa eu vos digo: nem Evaristo da Veiga, muito menos D. Pedro I teriam palavras para relatar o que hoje se passa sob nossas vistas.
     Perdoe-me mãe, mas nem tu continuas sendo gentil para com seus filhos. Submete-os à duras penas, altos impostos, juros exorbitantes e agora, o "fantasma" da inflação galopante, que volta a nos assombrar.
     Resta-me apenas assinar esta missiva que escrevo com o coração partido. Bem que queria dar-te boas novas, mas o que vejo é o que está posto e assino embaixo:
     Uma filha tua, uma brasileira.

 
By Angela Ramalho
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