O Coração das Pombas


O que lhe vem à mente quando nos referimos às pombas? Paz? Sim, elas são o símbolo augusto da paz; “ó tênue condão da esperança, que nos enche de amor”. Fiquei a refletir sobre tal conceito. Comecei então, no “google”, a buscar explicações para a origem da representação. 

Logo de cara, deparei-me com uma anedota: “Qual a diferença entre a pomba, a mulher e o homem? A pomba é o símbolo da paz, a mulher não tem paz na pomba e o homem não deixa a pomba em paz.” 

Foi um pouco forçada, admito, no entanto, a primeira assertiva podemos deduzir que seja verdadeira. Quanto as seguintes, deve-se ressaltar que “a humanidade não tem paz, dentre outros motivos, por causa do uso que fazemos dos instrumentos necessários à reprodução”. Sim, o mau uso do sexo, da sensualidade, desde o advento bíblico e simbólico de Adão e Eva, tem posto a perder a humanidade. Piadas de péssimo gosto, como esta, devem ser abolidas e rechaçadas. 

Eis então o homem a perverter o símbolo. O órgão sexual feminino comparado a uma pomba. Além de um conceito machista, absolutamente cruel, esta anedota traz à tona a nossa índole, a capacidade de distorcer, adulterar e corromper. O ícone puro foi transmudado: uma agressão à mulher e ao que o pássaro representa no inconsciente coletivo. 

Resolvi reerguer-me e segui em minha pesquisa, inglória e cruel, na busca de algo mais edificante. 

Desta feita, reporta-se o texto à Bíblia, afirmando que graças a uma pomba, foi anunciado a Noé o fim do dilúvio. Da primeira vez que soltou a pomba (não pense besteira - viu a verdade de quando afirmo que a tudo deturpamos?), esta retornou sem nada encontrar. Da segunda vez, trouxe-lhe um ramo de oliveira e da terceira não mais voltou. Surge aqui uma pergunta intrigante: se Noé levou dois de cada espécie, sendo que a pomba nunca retornou, como elas se reproduziram depois e existem até hoje? Ahá, és um evolucionista, acusam-me. Sou, em parte, até que melhor explicação me seja sugerida. No entanto, não entrarei em polêmicas, quero aqui descobrir a origem do símbolo e não entrar em infindáveis contendas filósofo-teológicas. 

Satisfeito então, por descobrir o início mais provável da celeuma, quando devia ter parado; localizei outra anedota, sobre o quão traiçoeira são as pombas ao nos emporcalhar com seu excremento fecal. Novamente o homem corrompendo a pureza. Logo adiante, surge um texto no qual o autor declara ter atropelado uma pomba, após segui-la por 54 minutos, as quais chamou de ratazanas com asas, disseminadoras de piolhos e outras doenças. Eu tinha uma escolha, ou a opção bíblica, de ficar com a pomba de Noé, ou seguir, procurando outras referências e desacreditar-me do símbolo. 

Parei e pensei: decidi por acreditar na força original do mito. Interrompi minha pesquisa e fiquei em paz, com meu coração de pomba.