Arte da guerra

Calça velha. Casaco de moletom do namorado. O tênis que fica esquecido no fundo do armário. Coloquei tudo em uma sacola de plástico de supermercado e fui. Após 40 minutos na estrada com os companheiros de aventura, uma parada para comer panquecas de chocolate. Eu sabia que precisava de energia, uma delícia especial que me fizesse lembrar que vale a pena lutar pela sobrevivência.

Mais 20 minutos dirigindo e chegamos. A recepção ficava em um barraco capenga. A porta estava emperrada. Do lado de lá, latidos de um possível cão de guarda. Até que uma voz disse “empurra com força!”. Imediatamente, nos fizeram assinar um contrato que dizia, em outras palavras, que estávamos cientes do risco de sofrer ferimentos graves, potencialmente letais, e aceitávamos pôr nossas vidas em risco.

Máscara na cara, ignorei o cheiro de suores alheios acumulados. Experimentei cinco coletes até achar um menos destruído, mas, ainda assim, o velcro de ajuste estava muito desgastado. Isso significava que a única barreira de proteção entre meus peitos e o mundo selvagem não era das mais eficientes. Segurei minha arma e me senti automaticamente arrependida por nunca ter lido “A Arte da Guerra”. Saber que sou um zero à esquerda jogando Halo também enfraqueceu minhas esperanças. Naquela hora, a única coisa que me mantinha firme era a lembrança da panqueca.

Catei o máximo de munição que pude. Admito, até peguei algumas balas esquecidas no chão pelos outros guerreiros. Não era roubo, certo? Ouvi as instruções de combate e observei meus oponentes. Eram destemíveis, sorriam comemorando a mais recente vitória, contavam animados como destruíram os inimigos. Mostraram suas cicatrizes e disseram “nem doeu!”. Cinco garotos de 12 anos. O líder tinha cada unha pintada com um esmalte diferente. Talvez seja uma nova moda ou essas cores representem suas vítimas... Só sei que isso não existia no meu tempo.

Chegou a hora de guerrear. Cada exército de um lado. O time com o último sobrevivente... vence. Éramos seis adultos, um deles, experiente. Nosso chefe. Disse para não avançarmos rápido, esperarmos os rivais tomarem a iniciativa. Assim foi e foi num repente. Em dois minutos já estávamos cercados pelos pequenos indomáveis. Tiros por todos os lados. O primeiro do nosso time a finalmente atirar em alguém acabou atingindo mesmo um dos nossos aliados. Foi o início do fim.

Um a um, caímos. Eu só ouvia “I’m hit! I’m hit!”. Logo, éramos apenas três, encurralados entre paredes que estremeciam com o intenso fogo inimigo. Nosso chefe tentou correr... morreu. Eu atirava, atirava, mas as balas iam pro céu, pro chão, nunca na direção do meu alvo. Disse para meu último companheiro: “Há oponentes ali, ali e ali!”. Onde? “Ali, ali e ali!!!!!!!!!! Não está vendo? Ali!!!!!! Aliiii!!!!!!! E Aliiiiii!”.

Foi quando senti meu braço queimar, latejar, doer para ca%#*&T! Morri. Acabou. Derrotada exatamente pelo líder rival, de unhas coloridas.

Descobri o que é brincar de paintball.