Semana Nacional do Cerrado
            Tenho para mim que o Criador inspirou duas Bíblias: aquela escrita que os homens ao longo de séculos redigiram e a natureza, onde se manifesta em sabedoria e generosidade. E ensina através das duas.
            Quando se contempla a natureza, facilmente se estaciona na sua utilidade e, quando muito, admira-se sua beleza. Pouco se nota a postura serena de mestra e inspiradora da vida. Basta usá-la e degustá-la. Não se vai além. Do grande livro, vê-se apenas a capa.
            Os belos encantos do planalto central estão sendo celebrados com destaque nesta semana. Segundo alguns arqueólogos o Cerrado é o mais antigo dos biomas brasileiros. É um mundo humilde e cheio de ternura, uma espécie de cartilha de escola. Belo e encantado como tão agudamente sentiu o “Cara de Bronze” de Guimarães Rosa:
“Buriti minha palmeira, toda água vai olhar
Cruzo assim tantas veredas, alegre de te encontrar.
Buriti vendeu seus cocos, tem família a sustentar
Ninho de arara vermelha, dois ovinhos pra chocar
Buriti me deu conselho, mas adeus não quis me dar
Amor viaja tão longe, junta lugar com lugar”.
            A Semana Nacional do Cerrado propõe a adoção de uma nova mentalidade. Nas últimas décadas começaram a chegar as primeiras advertências de um provável desequilíbrio fatal do sistema. Quando o egoísmo é mais forte que o amor ao meio ambiente e às pessoas. Quando se perde a noção dos limites. Traz em sua matriz uma proposta de superar o egoísmo, o consumismo, a ganância de possuir mais a qualquer preço. Trata-se de ser escrupulosamente preocupado em preservar e conservar o ar, a água, a flora e a fauna. Trata-se de readquirir o carinhoso respeito e a contemplativa admiração em face à natureza. As coisas como estão, estão muito absurdas desde a inauguração da era agronegócios: lucro indiscriminado para o sucesso frágil e fácil.
            Cerrado mineiro do velho Chico. Cerrado goiano dos buritis, diálogo silencioso das coisas. Pequena flor aninhada na fissura da pedra... Obra interminável, onde a vida nova brota das rugas da velhice.
"Eita, Sertão!"