SOBRE RELIGIÃO E OPINIÃO

Eu sempre ouvi um ditado popular que é muito repetido: “futebol, política e religião não se discute”, e tenho a plena certeza de que isto é a pura verdade. O ser humano é uma incógnita, é quase impossível de ser entendido. Eu sempre fui uma pessoa sensível, e agora na atual circunstancia em que vivo sinto que esta sensibilidade está mais aflorada, é fácil perceber claramente através do olhar e do tom da voz de uma pessoa quais são suas verdadeiras intenções e seus verdadeiros sentimentos, eu não sei dizer se isto é bom ou é ruim, mas é a minha realidade. Com isto vai-se desenhando um quadro triste e escuro, onde a falta de paciência, o desconforto do não saber ou não querer ouvir, que leva algumas pessoas a estrategicamente sair pela direita e te deixar com um “Deus vai te ajudar, ou um entrega na mão de Deus” tão falso, tão sem sentido que chega a doer. O nosso egoísmo é gritante, queremos falar, reclamar, “desabafar”, mas não podemos e nem queremos ouvir, simplesmente não temos tempo! E estas frases se tornam escudos para nossa covardia de não querer participar ou ajudar mesmo que entre “aspas”, alguém que passa por um momento difícil, na verdade as frases são uma fuga, eu dizendo para ficar com Deus, ou Deus vai te ajudar e entrega nas mãos de Deus, eu me eximo de qualquer responsabilidade de nem mesmo te dar uma palavra amiga, naquele momento em que você tanto precisa, nem falo em ajudar a resolver um problema, pois isto ninguém pode fazer mesmo, as decisões devem ser tomadas exclusivamente por quem está dentro da difícil situação, isto ninguém pode realmente fazer por nós.

Mas o que mais me deixa irritada e perplexa é que a maioria das pessoas, principalmente quando estamos com algum problema de saúde ou acamada, como eu estou agora, é que a primeira coisa que fazem é perguntar, ou às vezes nem perguntam, simplesmente aparecem para fazer orações, como se antes do problema você não rezasse, não precisasse de Deus. Pior ainda, nem se quer perguntam se você segue alguma religião e qual é, e quando perguntam e não é a mesma deles, não aceitam, chegam a se irritar, respeitar?!!! Nem pensar, a sua não é boa, ela não vai te curar, a deles...Sim! Se você não se “cura”, chega a se sentir culpado, como se o seu maior desejo fosse continuar doente, tomando um monte de medicamentos, dependente e com a vida completamente revirada.

Liberdade de opinião e expressão?!!!! Para eles não existe, só eles estão certos! Todos podem falar e pregar, mas ninguém quer te ouvir. Precisamos ter Deus em nossas vidas em todos os momentos, dia e noite e não somente quando estamos em cima de uma cama. A religião é apenas o meio pelo escolhemos pela sintonia, pela empatia, onde nosso coração se sente bem, comunga com o mesmo espírito daquele grupo, a religião nada mais é do que nomes diferentes, criados por pessoas diferentes, para pessoas diferentes que querem encontrar o PAI, que é apenas um. Nenhuma é melhor ou pior que a outra, cada uma acata as necessidades de seus seguidores, ela não pode e nem deve ser imposta, é preciso aceitação, é preciso respeito à liberdade de escolha.

Você pode argumentar como eu mesma citei que Deus é um só e que oração nunca é demais, e eu concordo, mas para uma oração é preciso união, comunhão de pensamento, e aceitação de coração da forma de como você vê sua vida espiritual, se isto não existir, o choque é enorme. Infelizmente ( e é claro que não posso generalizar), a maioria das pessoas ainda não consegue colocar a oração e Deus acima de tudo, e em uníssono orar por algo melhor, a religião vem em primeiro lugar, e é onde todos nós pecamos.

Para ilustrar melhor o que estou querendo dizer basta olhar para a chamada “guerra santa”, que existiram nos primórdios e ainda existem. Onde está escrito que Deus pediu que matassem uns aos outros em seu nome? Em lugar nenhum! Pelo contrário, o que nos foi deixado é que devemos amar a Deus acima de todas as coisas (inclusive da religião, pois a religião não é Deus), e aos outros como a nós mesmos. Mas infelizmente colocamos o nosso “EU”, nosso “EGO” à frente disto tudo e nos tornamos cegos. E com isto queremos convencer a todos que a nossa religião é a melhor, mas o que realmente precisamos é nos convencer de que se o nosso coração estiver limpo, aberto para o amor verdadeiro, pelo amor que nos une em Deus, e nos unirmos independentemente da religião que seguimos e sinceramente orarmos pelo bem e redenção de toda a humanidade, aí sim estaremos começando a trilhar o verdadeiro caminho que nos levará ao Pai, não importa se estamos em cima de uma cama ou não, o que realmente importa é que acima de tudo aprendamos a nos respeitar, e a respeitar nosso irmão sem querer impor nossa regra dominadora.

Deus nos ensinou isto, como nosso pai nos deu a vida, um mundo para vivermos, nos mostrou o bem e o mal e nos deu o livre arbítrio, o direito de escolha, é assim que devemos agir também aprendendo antes de tudo a respeitar e aceitar inteligentemente aquilo que não nos é permitido mudar, sem esquecer que também nos cabe arcar com as responsabilidades de nossos atos, sejam eles para o bem ou para o mal. Todos nós temos direito à opinião, mas não podemos esquecer que onde termina a nossa liberdade começa a do outro, e não é porque ele pensa diferente, ele fez opções diferentes, que podemos crucificá-lo por isto.

Escrevendo tudo isto não quero dizer que sou a dona da verdade, muito pelo contrário não sei nada, a cada dia que passa aprendo um pouquinho, já fui uma fanática lunática, mas posso garantir que isto não me fez bem, mas com certeza também tirei lições desta época. Estando agora em cima de uma cama aprendi a ver as coisas do lado de cá, a experiência é dura, mas promissora dependendo da forma que enxergamos e encaramos os fatos. E é por causa desta vivencia particular, que me vi no direito de escrever estas palavras, tratando de um assunto que para muitos é difícil até para pensar, quanto mais falar ou escrever, é como se tocar neste assunto e desta forma fosse um pecado mortal.

Talvez o que eu disse aqui não sirva de nada, sirva apenas para um desabafo meu, mas quem sabe? Como nada se perde e tudo se transforma, então acho que valeu a pena escrever. Talvez lendo este texto você possa imaginar que eu sou uma tremenda preconceituosa, mas pode ter certeza que não sou. Apenas me senti no direito de poder expressar meu sentimento com relação a este assunto que muitas vezes é ainda visto como tabu, e que na maioria das vezes quase todo mundo tem vergonha de dizer o que realmente pensa, com medo de ofender o outro sem perceber que está se ofendendo e se deixando ser ofendido. É fácil criticar quando te perguntam se podem ir rezar por você, e você diz que não, ou se insistem para que você veja um tal programa religioso que passa bem longe das suas convicções e você diz que não viu. As pessoas te olham de lado e colocam em dúvida a sua fé.

Mas sinceramente eu tenho certeza que não posso dizer não apenas para Deus! De que forma?! Eu digo SIM a Deus quando do fundo do meu coração tento respeitar meu semelhante, digo SIM quando me proponho com calma e sinceridade a ouvir o que o outro pensa, mesmo que não concorde plenamente com ele, digo SIM quando pelo menos tento agir com as pessoas da mesma forma que eu gostaria que agissem comigo, digo SIM quando deito a cabeça no meu travesseiro e consigo dormir tranquilamente sem nenhum peso na consciência e nem no coração, digo SIM quando me proponho a pelo menos tentar não julgar o outro como eu não gostaria de ser julgada, digo SIM quando tento compreender, acreditar e aceitar que Deus sabe exatamente do que eu preciso, e digo SIM quando sinceramente o agradeço por me dar muito mais do que eu mereço. Talvez isto ainda seja muito pouco, mas digo SIM quando tento a cada dia melhorar um pouquinho que seja como ser humano.

São muitos os argumentos usados para convencer você a mudar de religião, mas tem um em especial que me deixa realmente perplexa quando ouço: __Você tem que se curar em nome de Jesus, porque ele se deixando ser crucificado já sofreu por nós e já pagou por todos os nossos pecados. E aí eu pergunto:__ Então por tudo que aconteceu com ele, nós pequenos simples mortais e cheios de pecados, podemos fazer o que quisermos que não precisamos pagar por nada? Nada que fizermos de errado é nossa responsabilidade? É justo, além da cruz que ele já carregou, jogar a nossa nas costas dele também? Isto é correto? Sinceramente isto eu não consigo entender.

Existe uma frase que é muito sensata e que quem já leu o livro “O pequeno príncipe” certamente deve se lembrar: “Você é responsável por aquilo que cativas” e eu ainda acrescento: tanto para o bem quanto para o mal. Não podemos e nem devemos fugir de nossos deveres e nossas responsabilidades. Também me atrevo a dizer que o fato de você se curar ou não de uma doença, não significa que você não tem fé. As doenças fazem parte deste mundo em que vivemos, este mundo de provas e expiações, a verdadeira fé consiste em aceitar e não se conformar, a oração sincera e a fé nos ajuda a entender e aceitar a nossa condição sem desanimar, sem praguejar e sem nos fazer de vítima e perguntar a cada minuto: Porque comigo meu Deus? Ter fé é aprender a recomeçar sempre, independente de qual seja a condição e acreditar que ainda podemos ser útil em alguma coisa, mesmo que esta coisa seja apenas um pequeno mas sincero sorriso.