Um prato vermelho com tomates
       ( Ou: devagar se vai longe)
 
Acordei, como sempre tenho feito nos últimos meses, com o chamado de meus pequenos Joca e Pongo. Quem os ouve pela manhã pensam que são lobos esfomeados, mas a verdade é que desejam apenas sair, ganhar a liberdade em um velho quintal que já está ficando sem atrativos , pois conhecem cada ponto já que se apossaram dele totalmente. Estava eu nos finalmente do trato deles quando levantei os olhos e deparei-me com o prato com tomates, em minha opinião, artisticamente arranjados. Pensei: minha mãe é uma artista. Eu não conseguiria dispô-los assim, formando uma composição tão bonita e harmoniosa.

Ele estava lá, o prato vermelho com tomates, em todos os tons possíveis em um tomate, do verde ao vermelho. Quantos? Uns quatorzes, de todos os tamanhos, desde o tão pequeno, como uma bolinha de gude, até o bem maior de um vermelho vivo.Ladeados pela panela de torrar café repleta de laranjas e o cesto com bananas e maçãs, formando um conjunto de extrema beleza, sobre o tampo de mármore branco. Ficariam lindos se fossem pintados por um artista tentando imitar a criação divina em uma natureza morta.

Recuperei-me do transe e continuei a fazer o que precisava ser feito, mas agora com novas ruminanças. Da comparação entre o pequeno tomatinho verde com o maior, completamente vermelho, meu pensamento voou para outras paragens e eu comecei a pensar no processo da maturidade que ocorre com todos os seres vivos. Comecei a pensar na maturidade e na velhice do ser humano, concluindo que tudo passa por um ciclo evolutivo, inclusive nosso espírito.

É voz geral que a velhice traz a sabedoria, mas não concordo cem por cento. A velhice deveria trazer a sabedoria, mas nem sempre traz. Conheço muitos velhos que têm titica de galinha na cabeça. Seus espíritos vão precisar de muitos retornos para alcançar a maturidade e com ela, a sabedoria, que é a característica que nos torna, seres humanos, semelhantes Àquele que nos criou. Conheço crianças e jovens que parece já terem nascidos prontos, apresentando uma maturidade surpreendente.

Pensamento e ação trabalhando separadamente sinto que está na hora de entrar e deixar a vida no quintal seguir o seu caminho. Tenho também que ir em busca de minha trajetória diária. Olho para fora e vejo os dois, Joca e Pongo, que recusaram a cara ração que lhes comprei, entretidos em tentar abocanhar as folhas do tomateiro, que escapam entre os vãos do aramado. Comem com prazer e eu começo  novas ruminanças, dessa vez sobre o papel do acaso em nossas vidas. Mas essas não vão para frente porque preciso escrever uma crônica para postar na net.