Açúcar no Bigode

Nos anos 50 e 60 havia no Vale do Rio Doce um capitão combatente ferrenho da criminalidade daquele vale. Capitão Ledro usava métodos discricionários exagerados sem obedecer os parâmetros da lei. Diziam dele coisas que ninguém conseguiu provar como torturador e exterminador de bandidos. Falavam que muitos corpos apareciam boiando no Rio Doce. Diziam que um cabo de sua confiança matava os bandidos e jogavam-nos no rio. Era o Estado Novo, à chamada ditadura branca. O capitão tinha sagaz tino investigatório, disfarçava em diversos tipos, lavrador, mendigo e até de mulher para elucidar crimes. O capitão virou lenda, diziam que tinha o corpo fechado. Era temido e respeitado. Foi por muitos anos delegado regional em Governador Valadares. Como havia a prática de pistoleiros e furtos de cavalos, quase não ocupava tempo com pequenas ocorrências , geralmente resolvidas por subalternos . O capitão só descascava “abacaxi” quando de ocorrências com poderosos do poder econômico e político. Foi o que aconteceu com um filho de um rico comerciante de família tradicional valadarense . O pai do rapaz criminoso, temendo os corretivos sui generis pediu clemência para o filho que engravidara uma menor “biscate” de 14 anos. Biscate era um termo para mulheres vulgares, embora não sendo prostitutas praticavam o sexo livre apenas por desejos fisiológicos, uma imoralidade para à sociedade e um grande pecado no sentido religioso. Era tempo de um machismo arraigado na compreensão social daquela época. Havia um ditado:”prendam suas cabras, por que meus bodes estão soltos”. Capitão Ledro recebeu o tal rapaz com um sorriso enigmático e brincando, deixando-o bem à vontade, já que às costas quentes do pai o protegia, estava na delegacia mais folgado do que “colarinho de palhaço” . O capitão: “como você pega tantos “brotos” assim rapaz, já tenho aqui na delegacia cinco queixas, você é gavião mesmo! O que você tem o que eu não tenho?” O rapaz tranquilo, confiante acreditando na indiferença do capitão com relação à queixa, esboça um sorriso maroto passando à mão no bigode e dizendo: “tenho açúcar no bigode capitão”! O capitão o levou para o fundo da delegacia, pegou um alicate e começou arrancar fios de cabelos do bigode sedutor, a cada fio o capitão olhava e dizia: “é rapaz, nesse aqui não tem açúcar não”! O beiço do rapaz saiu inchado depois de passar duas noites no xilindró e ainda com promessa de falar que tinha tomado um tombo.

Lair Estanislaau Alves. Setembro de 2011-09-14.

Sô Lalá
Enviado por Sô Lalá em 18/09/2011
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