Sonhos vermelhos

é bem difícil. esses amores construídos na minha cabeça como as pirâmides, como os jardins suspensos. construídos pelos milhões de escravos - hormônios - com impulsos elétricos que percorrem minhas sinapses em microssegundos, criando essas malditas ilusões. ou talvez, simplificando as coisas, minha cabeça esteja cheia de pôneis malditos, como no comercial da tv.

as criações mais absurdas que vêm ao meu subconsciente, e mais de uma vez. como foi mesmo o sonho? sim, um velho fascínio... a menina de cabelos cor de cereja. existe mais de uma, fato do qual não me recordava. acredito que já escrevi sobre as duas. bem, é uma das duas, elas terão, cada uma, 50% de chance de acertar se é ela ou não, caso cheguem a ler essa porcaria.

não me lembro como foi o sonho, por isso enrolei mais um parágrafo. já se passaram vários dias, não me lembro exatamente, mas sonhei com ela duas vezes. talvez possa até ter sonhado acordado, ou meio acordado. sei que ela está povoando minha cabeça. imagino ela fazendo parte da minha vida, um futuro, essas coisas. eu tenho a mania de construir e desconstruir mundos com as pessoas pelas quais me sinto atraído. será se todo mundo faz isso? é possível que sim, todo cara imagina isso que eu imagino, chegar do trabalho e vê-la só de lingerie em cima da cama, com um copo d'água do lado, reclamando do calor de brasília e que estava louca pra me ver voltar. é até de se suspeitar de uma cena dessa se ela acontecer de verdade, pois o mais comum seria chegar em casa e ouvir qualquer mulher que fosse dizer: "você não vai consertar a porra do ventilador, caralho?" ou "porra, pra quê que eu fui arrumar um homem pobre, nessa casa não tem nem ar-condicionado!".

mas voltando, eu imagino ela aqui comigo. eu imagino dizer pra ela o que fazer, onde ir, dando dicas, eu fico pensando, em plena segunda-feira, pra onde vou levá-la no final de semana, que ela está na cidade pra me conhecer e vou impressioná-la, e ela vai acabar ficando por aqui, e vou morar com ela, e pelo menos de vez em quando vou encontrá-la de lingerie (pelo menos nos dias mais quentes) e vamos transar pelo apartamento todo, e um belo dia ela vai me dizer lá pras dez horas que está grávida, e eu vou pensar: "fodeu" e depois vou rir e imaginar mais coisas... e aí eu chego no trabalho, no elevador penso por uns cinco minutos se algum dia ela vem mesmo pra cá. sento na minha mesa e esqueço.

os pensamentos do parágrafo acima foram reais, tanto que eu sonhei com eles, numa ordem mais caótica e fragmentada. mulheres com boas histórias são fascinantes, a palavra que define essa minha pequena obsessão por ela seria fascínio. obsessão eu costumo ter por muitas mulheres, mas fascínio por poucas. são as que são bonitas e têm um conteúdo bem acima da média. não que eu não goste das gostosas sem conteúdo nenhum. adoro as gostosas, elas me satisfazem bastante. mas não são pesos que valem a pena carregar por longo tempo. mulheres como ela, sim eu acho que teria um certo prazer em conviver com uma mulher como ela. é bom ter coisas em comum com uma mulher, de uma forma ou de outra te conecta na terra.

eu sonho com ela e penso nela exatamente agora. legal, não é? embora tenha outras mulheres mais próximas de mim... posso estar cometendo desperdícios de vida ao pensar nela, desgastando minha cabeça à toa. não sei, é provável. eu acho que eu nunca vou ter uma mulher sobre a qual escrevo. se eu tiver provavelmente será definitivo. eu gostaria de vê-la colocar seus óculos sobre meu criado e tirar a roupa lentamente, me olhando com olhos extremamente maliciosos, lançando aqueles olhares que as mulheres lançam involuntariamente quando desejam os homens, olhares de um fogo infernal, olhares que já consumiram civilizações inteiras. eu a vejo e sei que ela sabe fazer uso desse artifício. os outros artifícios dos quais ela usa, adoro imaginar e reinventar e pensar o dia todo neles, quando estou de bobeira, entre reticências e interrogações. é simplesmente uma mulher deliciosa de se imaginar. acho que esse texto não consegue descrever todos os pensamentos que tenho com ela, esse texto é uma falha como arte e/ou forma de comunicação. nem mesmo os sonhos consegui lembrar. acho que é porque ela não é uma lembrança, ela é um pensamento corrente, como água de um rio. é impossível distinguir qual foi a água que passou, a que está passando e a que virá. ela flui na minha cabeça. sua cor é vermelha... eu quero trazê-la pra cá. seus suspiros...

sua pele, meus sonhos, meus silêncios precisam criar voz.