O que sou agora que cresci?

Descobri já há algum tempo que sou do tipo medíocre. Aquela que não se destaca nem para o bem, nem para o mal. Aonde quer que eu esteja, jamais sou a mais burra, pobre, feia e desajeitada. Tampouco brilho com os opostos pomposos de tais qualidades. Essa percepção de mim, nua e crua, destruiu os lindos castelos de ilusão que construí desde ainda criança, sempre que alguém me perguntava "O que você vai ser quando crescer?".

Minha guerra entre sonhos e realidades vem se esticando por anos e anos. Com melhores armas do que eu e exércitos constantemente me atacando por todos os lados, o mundo chacinou cada um dos meus grandiosos "eus"... A astronauta que desvendaria o universo, a pilota que dominaria os céus, a heroína de animais selvagens, a militante por um mundo mais justo, a filósofa que inspiraria mentes secas por mais conhecimento.

Por fim, os terroristas inimigos torturaram até a morte meu "eu" jornalista. Aquela que viajaria por lugares inóspitos, curiosos, ignorados pelos cartões postais, para contar a quem quisesse me ler as histórias incríveis de humanos incríveis que vivem esquecidos por aí.

A resposta do que sou agora que cresci não se assemelha em nada com os enredos fantásticos que outrora montei para mim. Sou, ao contrário, um filme desinteressante que as emissoras de TV somente exibem para os loucos da madrugada conseguirem adormecer.

Caí na Terra não na forma de um Monte Everest ou um de Taj Mahal, mas como uma dessas milhões de gotas do oceano. Claro... eu faço diferença. Sem mim, a vida de algumas pessoas seria forçada por um rumo alternativo, menos alegre - espero. Meu único problema é que não sou tão grande quanto eu queria. Sou média.

Sem os castelos do que eu poderia ter sido, meu desafio atual é descobrir como ser o melhor do meu “eu” medíocre. Desvendar nesse ambiente de possibilidades mornas qual é o caminho para viver dias mais felizes e sentir-me, enfim, realizada. Ainda que dentro dos limites de quem não tem asas.