Facetas do tempo

O começo e o fim se cruzando... os vejo caminhando juntos. Um, meio abobalhado pela inexperiência dos anos. O outro, teimando em não tombar sob o peso do tempo, que enfraquece suas pernas, mas entre choramingos, ele esperneia e se pôe de novo em pé.

O novo não tem noção do que vem pela frente, tudo é novidade e faz festa. Tem a força de uma juventude robusta e poucos o consegue segurar, embora se curve ante a voz alta da disciplina. O velho caminha capengando, cai, levanta e briga se for necessário para não lhe tomarem o lugar.

O jovem e o velho caminham juntos, posso vê-los lado a lado, andando pelo quintal. O novo testa os dentes que afloram, mordendo tudo que encontra. Já o velho faz um esforço tremendo com os poucos que lhe restam para sua refeição matinal.

O cão novo quer brincar, pular, quer correr e, às vezes, atropela o velho cão que só quer comer, beber e deitar. Quem vê a cena do novo empurrando o velho não entende como o filhote pode ser tão estúpido e porque o velho não pára quieto, toda hora levantando e forçando as permas duras que mal conseguem andar. Os que têm olhos perspicazes, ao contrário, são capazes de entender o esplendor das facetas do tempo e sentem uma enorme emoção vendo o velho e o novo caminhando juntos: um começando a viver, o outro se preparando para o fim...