EU TENHO MEDO

EU TENHO MEDO

O culto da família, os bons costumes, o respeito e a moral até bem pouco tempo faziam parte da nossa sociedade. Enquanto os filmes e os romances norte americanos e europeus encenavam cenas fortes de sensualidade e grande violência cotidiana, nós por aqui com a nossa vidinha simples e menos complexa, levávamos uma vida que poderia se dizer: estávamos no paraíso.

Os idos anos sessenta em minha pacata cidade de São Luís do Maranhão, as nossas ruas estreitas e calçadas com pedras retangulares, onde os pouco veículos existentes entre perfect e hilmans se misturavam com bicicletas de origem alemã e carroças de tração animal. Os postes de ferro ostentavam fios de eletricidade da energia termoelétrica fornecida pela Wlen uma empresa americana, e os ônibus que circulavam a cidade eram feitos de caminhões improvisados e movidos a gasolina, não haviam linhas e os transportes coletivos tinham nome como andorinha, amarelinho e etc. Quem nos visitava ao deslumbrar-se com o bazar arquitetônico das construções viajavam no tempo e diziam: por aqui, o tempo parou. Que lugar magico, calmo e bonito, tão belo que chega a ser lindo. O vento sopra suave pelas ruas e ruelas e o cheiro de mar inebriam as pessoas, o perfume das florestas silvestres dos arvoredos de nossa mata atlântica que nesse tempo ainda não ostentava esse nome, eu confesso que tenho saudades desse tempo. Nosso meio de comunicação era o radio AM e seus maravilhosos programas inclusive os de auditório nos dias de domingo. Enfim, veio a televisão, um progresso enorme e nos, meninos e meninas nos reuníamos em uma casa sentadinhos no chão para apreciar os desenhos e as primeiras telenovelas, um verdadeiro encanto e, nos sonhávamos com tudo aquilo . Cedo da noite estamos dormindo acalentando doces sonhos que só as crianças têm. Hoje, eu me assusto ao ligar a TV para assistir o Telejornal pelas noticias das desgraças que pensávamos que só acontecia nos Estados Unidos e no resto do mundo, mais que em nosso pais virou modismo, a violência invadiu as ruas, as drogas tomaram conta de tudo e o nosso aparato punitivo é inútil para combater essa guerra silenciosa que se instalou em nossas vidas sem sequer nos pedir permissão... Não faz muito tempo um psicopata entrou em uma escola de crianças indefesas e inofensivas e praticou uma verdadeira chacina, sendo felizmente parado por um policial suicidando-se em seguida sem nos dar a chance de dizer por quê? E será que adiantaria Perguntar? Haveria uma razão para tanta violência?

Hoje cedo eu tomei um verdadeiro susto ao saber do acontecido em São Carlos em São Paulo, onde uma criança de apenas dez anos de idade, aparentemente normal, calmo e bom aluno, bom filho e sem problemas visíveis, entrou na sala de aula, retirou da mochila um revolver e atirou contra a professora em ato continuo disparou contra se mesmo causando a própria morte, felizmente a professora sobreviveu. Qual a razão de tal ato? Porque um aluno entra na escola armado sem que a segurança interna não veja ou como e porque um pai deixa ao alcance dos filhos uma arma de fogo? São tantas interpretações, e análogas interrogações que acabam não nos levando a nada a não ser meditar, pensar, acompanhar relatos infindáveis que no final arquivam-se sem solução.

São casos sem explicação, sem razão de ser, não existe aclaração de como ver ou tratar com a mente humana, essa sanha assassina como a do estudante de medicina que matou varias pessoas em um cinema, ou a moça que planejou com o namorado a morte dos pais, aliás, são quantas essas que já cometeram esses atos canalhescos, vis e indignos da conduta humana? Sem falar nos traficantes sejam eles do que forem dos pedófilos que atentam contra a inocência das crianças e dos estupradores que representam a classe de criminosos mais repudiados até mesmo no mundo cão.

São coisas inexplicáveis, inaceitáveis que nos entristece, faz com que cada dia tenhamos mais medo de sair de casa, de nossos filhos e até da própria vida, eu não sei mais se estamos à beira do caos social ou se já o vivenciamos em toda a sua amplitude, porém, eu confesso, tenho medo.

AIRTON GONDIM FEITOSA