Rua 13 de Maio

Lendo as coisas que o Aristides dos Santos, o famoso V8, registrou sobre a cidade de Campinas, me atrevi a escrever algo da minha infância e adolescência, sobre a Rua 13 de Maio.

No fim de 1945 eu fui trabalhar no bar do senhor José Coelho. Isto depois de eu ter sido aprendiz de alfaiate, barbeiro, sapateiro. Tudo isso sem receber nada. No bar e Café do senhor José Coelho, eu me sentia útil a mim mesmo e aos outros pois não tinha a menor queda para os ofícios citados.

A 13 de maio já não é a mesma. A maioria das lojas não está mais lá. Apenas uma ainda ficou no mesmo lugar: A Casa Neusa, de calçados, com o Senhor Téio.

Mas a 13 de Maio era mais ou menos assim: da Estação Ferroviária até a Rua Visconde do Rio Branco, estou focalizando este trecho porque a minha memória não me permite ir além. Já no começo sentia-se aquele perfume das maças e das peras da frutaria do Capilé, com o Hotel Grigolet ao lado.

Íamos descendo e encontrávamos o Bar Laselva, o Hotel Americano, o Hotel Suares, a Casa Lopes, casa lotérica onde se jogava no bicho, pois esse jogo era legal na época. A Casa Camponesa, a Sapataria Portuguesa, dos Guedes, a Loja do Senhor Almeida, especializada em casimiras e linhos. A Casa Neusa do senhor Téio, que tinha como funcionário o Zé da Bica e o Senhor Antonio Cecato. O prédio Santa Matilde, com vários andares. E eu me lembro dos doutores Luiz de Tela e Rodolfo Tela, muito famosos em todo o Brasil, que tinham consultórios ali. O motorista de ambos era o Arlindo, conhecido por “2 horas”.

Na esquina da Saldanha Marinho ficava o Bar do Senhor José Coelho, onde eu trabalhava, e em frente do nosso estabelecimento ficava a loja do Senhor Bernardo. Nossos vizinhos eram a Casa dos Queijos do senhor J. Ferreira e alguns metros para baixo ficava a Casa das Ferragens do senhor Cação e seguindo, tínhamos a Concorrência e a Feira dos Calçados, ambas lojas de calçados, em frente à farmácia Fabiano, tinha também a Casa Dois Irmãos, loja de coisas variadas.

Apenas para recordar vou dizer que a Casa dos Queijos do Ferreirinha, quando recebia seus produtos de Patrocínio, no estado de Minas Gerais, o caminhão de entrega parava do lado esquerdo pois havia a linha dos bondes na direita. Então naqueles dias era de amargar para o Nélson, o Benvindo e o Netinho, funcionários da Casa dos Queijos, pois entre o caminhão parado com os queijos e os Bondes das linhas 2, 5, 8 e 9, que desciam a 13 de Maio, sobravam apenas uns 15 centímetros.

Para mim foi a melhor época da minha juventude. Convivendo com tanta gente, alguns jogadores da Ponte Preta, que moravam no Hotel Suares, os Garbelinis, que tinham uma vulcanização na Saldanha Marinho, encostadinha à Rua 13 de Maio. Havia o armazém de secos e molhados do senhor Lazinho, muito bem sortido. Eu ia, também, sempre levar café na camisaria Forbatol.

Para mim também era muito agradável ir buscar pães na Padaria Minerva. Eram 50 pães para fazer lanches, e tinha de voltar à tarde para buscar mais. O senhor Perez fazia, na época, o melhor pão de Campinas.

Não vou me aprofundar mais porque a minha memória não quer me ajudar.

De tudo isso ficou a saudade. Saudade de uma época que não mais vai voltar. Saudade de todos aqueles que ajudaram a forjar em mim uma personalidade, sempre consciente de meus deveres e responsabilidades. Mas de tudo o que escrevi sobrou apenas a Casa Neusa para comprovar que tudo não foi apenas um sonho.

Laércio
Enviado por Laércio em 27/09/2011
Código do texto: T3243730