Calor.

Parece o fim dos tempos; isto é, caso haja muito calor no fim dos tempos, que é o que parece, porque olha rapaz, nunca, em meus trinta e cinco bem curtidos, vi calor assim.

São cinco e vinte e cinco da tarde, fechei meu estabelecimento e não agüentei, abri uma garrafa de cerveja bem gelada, botei blues pra tocar na vitrola e fiquei a ver se alguma nuvem brotava no céu.

Nas ruas só se ouve:

“Nossa, que calor, rapaz!

Nossa, impressionante!

Desse jeito vamos torrar sob o sol!

Deus há de mandar chuva para o povo abençoado!”...

Está tão quente que até se tem a impressão que todos vão enlouquecer de vez, ferver os miolos. Todos loucos, loucos, loucos, acéfalos, bucéfalos, boçais, babando e tentando e andando sem parar por todos os lados, andando, simplesmente andando e babando, como zumbis, dizendo calor, calor, calor, calor..., ninguém conseguindo expressar nada mais que calor, calor, calor, calor... Tentando e andando, andando por todos os lados, andando e dizendo calor, em coro, calor, calor, calor, calor, e todos derretendo, tentando tudo, atravessar deserto e caindo aos montes com a palavra calor, calor, calor, calor, até que se desligando lentamente, fechando os olhos e morrendo, feito um brinquedo que repetidas vezes diz a mesma frase e vai acabando a pilha, reduzindo a marcha, calor, calor, calor, calor, até que o silêncio toma conta daquele louco que fritou o cérebro devido ao calor e quase que virou um brinquedo de pilha fraca, o fim... calor, calor, calor, calor...

SAvok OnAitsirk, 30.09.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 01/10/2011
Reeditado em 01/10/2011
Código do texto: T3251276
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