Pra Você Guardei o Amor

Em meio a era dos ‘’ficantes’’ sem compromisso, como se faz?

Porque as pessoas estão cada vez mais temerosas de abrir seus corações, de deixarem-se conhecer e ter uma intimidade real? Observo muita superficialidade nos relacionamentos de hoje… essa modernidade toda do “ninguém é de ninguém” e do “só te quero por hoje” me aborrece… sou de uma época em que se pedia pra namorar, mandam flores, cestas, bombons.... Acho que to velha, cafona… Mas não mudo, prefiro ser assim..

Hoje, supõe-se, depois de um tempo de “ficação”, que se esteja namorando… e, às vezes, só um que está namorando, o outro nem desconfia… e assim seguem as pessoas, temerosas do amor de verdade (que exige dedicação e nos deixa vulneráveis), sedentas de um par, mas camuflando seus medos e cicatrizes do passado e remediando suas solidões com amostras grátis de relacionamentos Perfeitos e que acreditam não irá causar nenhum efeito colateral.. Como estão enganados. A vida sempre coloca uma pessoa que busca as mesmas coisas que você.... na sua frente, e a difícil decisão de trocar uma pela outra é rápida... .. E assim as que pensam diferente, as da era dos trabalhistas ‘’Não sou de ninguém, eu sou de todo mundo ’’ vão ficando cada vez mais sós…

Estamos sempre guardando o amor...

Toda vez que conhecemos alguém e sentimos o frio da paixão, ele sempre se apresenta como o grande e definitivo amor. A vida fica leve, gritamos palavras de amor no Vale do Eco. Amamos, apostamos e… poxa… perdemos a aposta. A vida vem, sem pedir licença, e muda nossos planos. Mas o amor não desiste e segue, cabeça erguida e otimista, nos becos da vida, esperando encontrar no próximo virar de esquina o grande amor da vida, aquele que, de fato e derradeiramente, será o par com quem dividiremos os últimos suspiros.

Quando encontramos esse alguém... Descobrimos um amor diferente de todos os amores amados. Carinhos melhores do que todos os carinhos acarinhados. Amizade de passar horas a fio desfiando assuntos impossíveis. Cumplicidade , admiração de brilhar os olhos e disparar o sorriso. Faz um click e encaixa. Descobrimos que para essa pessoa que, imagina, andava por aí à espera do nosso momento, guardamos um amor diferente dos amores já gastos. Mobilizamos um amor que nunca soubemos dar. E nunca soubemos porque nunca foi demandado daquele jeito. Um amor que sempre tivemos e vimos de relance em nós, mas que nunca nos permitimos sentir, provar, entregar ou repartir. Faltava alguém para dispará-lo na plenitude. A pessoa chegou.

Nós guardamos para essa pessoa o amor que sempre quisemos mostrar, latente, doido para se gritar ao mundo, sem, no entanto, conseguir. Um amor que vive em nós e, paradoxalmente, vem nos visitar trazido por essa pessoa. Um amor que nos enleva a alma, que vem colorir com sua aquarela o branco e preto dos nossos dias, que vem trazer o sol e esquentar o frio e permitir o que nunca nos permitimos antes dele. Um amor que domina quem acolher o que ele tem e traz e acolhe quem entender o que ele diz escrito nos seus gestos. Com essa pessoa, compreendemos de primeira o jeito pronto do piscar dos cílios que o convite do silêncio exibe em cada olhar. Os sentidos são mais do que entendidos: são perfumados, de um jeito que só aquela pessoa foi capaz de produzir em nós.

E sabe o que mais? Nós guardamos esse amor para essa pessoa sem ter um porquê. Não tem uma razão específica a não ser não ter sido capaz de fazê-lo ser. Achamos a chave da porta para a esse amor nas mãos dessa pessoa. Explicação? Não precisa explicar o amor, esse amor diferente, novo, que desconfiávamos haver sem conseguir olhá-lo nos olhos antes da chegada da pessoa, dessa pessoa. Basta que o coração arda forte no fogo para que o gelo queime e derreta os amores de antes, que foram bons, mas não foram como esse que guardamos para essa pessoa. Amores que se apequenam diante desse gigantismo plácido.

Nós guardamos, para essa pessoa, o amor que aprendemos . Um amor que herdamos dos nossos pais como o valor que dá liga às relações. O amor que é carne, osso e alma da vida. O amor que tivemos de quem nos amou, que recebemos gratuitamente e que hoje podemos dar livres e felizes, devolvendo-o ao mundo, como retribuição dessa luz que chegou e tomou conta.

Foi para essa pessoa que nós guardamos. Quando ela chegou, renascemos. Seu lápis nos contorna novos sorrisos; sua matemática nos constrói novos planos. Ela nos põe com dois riscos uma ponte sob os pés para que atravessemos seguros. Com os lápis desse amor, desenhamos corações e mares de vai e vem no quadril dessa pessoa. Rabiscamo-nos, de fato, em toda sua geografia. Tatuamo-nos e ficamos colados em seu corpo. Nossos lábios beijam, corremos pelo seu corpo como a criança que, determinada, corre atrás de algo. Com nossas mãos encantadas pela magia dessa pessoa, nós tecemos o berço de seu lar, onde dormirá serenamente quem sereno nos deixa por existir.

Dádiva Rosa
Enviado por Dádiva Rosa em 03/10/2011
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