CHEIRO, SABOR E BARULHINHO BOM

Nossa memória é algo realmente impressionante. Tem mecanismos e artimanhas extraordinários. Você pode não se lembrar do que comeu hoje no almoço, mas é capaz de se recordar de detalhes do sítio que visitou com seu tio quando você era criança, isso há 30 ou 40 anos atrás.

A memória é danadinha, trabalha muito. Guarda imagens, toques, sons, cheiros e sabores, tudo ali, nas várias gavetinhas, junto e misturado, mesmo assim direitinho e bem guardado.

Olha só alguns cheirinhos bons que estão na minha memória:

de pipoca estourando,

de feijão carioquinha fresquinho,

de alho e cebola fritando,

de fogueira,

de chuva,

de nenê,

de capim gordura,

do perfume preferido dele,

de noite de lua cheia,

de mar,

de colo.

Sabores mnhão, mnhão, mnhão:

de pipoca quentinha com manteiga,

de morango maduro,

do bolo de cenoura da minha sobrinha,

de amora que se tira do pé e come sem lavar,

de pinha madurinha,

de caipirinha bem feitinha,

do rocambole salgado da minha irmã,

de vitamina de abacate com pão francês,

de doce de leite mumu roubado da geladeira da nona,

de queijo parmesão roubado da gaveta da mesa da cozinha também da nona,

de mandolate, mas o da infância,

de leite condensado,

de um bom vinho,

de festa junina,

especialmente de maçã do amor de festa junina,

da torta de côco da minha tia.

E os barulhinhos tudo de bom:

de pipoca estourando (deve ser obsessão),

de carro chegando,

de chuva,

de lama amassada com os dedos dos pés,

de banda de circo,

de grilo cantando,

de bexiga estourando,

de fogos de artifício,

de cachoeira,

de motor turbo de carro acelerando,

de solo de guitarra,

de bateria de escola de samba ao vivo,

de trovão.

Certamente há tantos outros cheiros, sabores e barulhinhos bons guardados na minha memória, mas acho que estes aí estão na primeira gaveta.