A Meus Amigos Cafajestes

Era mesmo um cafajeste, não tinha como negar.

Daqueles tipos sem pudor, sem vergonha na cara, sem medo de ser pego no flagra.

Abraçava estrategicamente uma mulher para fazer sinais por suas costas à outra que estava sozinha no balcão do bar.

Além de cafa, era extremamente moderno.

Guardava nomes de mulheres em sua agenda como se fossem homens, passava horas apagando mensagens suspeitas do celular para não deixar rastros, tinha perfis falsos nas redes sociais.

As mães sabiam que ele não prestava assim que colocavam o olho nele, mas o filho da mãe era tão simpático que virava amigo até das sogras.

Mandava flores, se declarava e jamais repetia uma poesia ao pé do ouvido.

Usava aliança, mas tinha um lugar especial na carteira para guardá-la assim que sua mulher virasse as costas.

E com toda essa malicia que já nasceu com ele, conquistou mulheres que ainda o procuram para se divertir.

Mas como diria Baleiro, “até um canalha precisa de afeto”.

E nessas aventuras desamorosas que ele sempre adorou viver, deu de cara com uma mulher que conseguiu enxergar o cafajeste inveterado que havia nele.

Assim, ela soube até onde podia ir, quais sussurros eram mentirosos e quais gritos eram verdadeiros.

Pegou-o de surpresa quando ele viu que na agenda do celular, ela mantinha o nome de todos os homens, sem se preocupar em omitir nada.

Todas as poesias que, pra ele, eram trunfos certeiros, ela já conhecia de cor.

Quando ele a abraçava, ela também dizia coisas a outros homens do recinto, em voz baixa para incentivar a leitura labial.

E aí, quando ela decidiu num dia que não queria mais ele, sumiu sem sequer dedicar-lhe uma última mentira.

Até hoje, aquele meu amigo cafajeste ainda a procura nos bares que freqüenta.

Quando abraça uma mulher, agora fecha os olhos para não enxergar nenhuma outra.

Seu celular tem poucos números na memória. O dos amigos de bar e o dela.

Sua conta no Facebook é real e ele anda postando pedaços de poesias repetidas, na esperança de uma delas ser lida e lembrada por aquela mulher que foi a única que conseguiu não prestar mais que ele.

Ele teve outras sogras, mas todas elas acabaram se tornando inimigas mortais, sua simpatia não era mais a mesma.

E agora meu amigo cafajeste só encontra nas garrafas de whisky de botecos bem freqüentados o cheiro da saudade que ela deixou quando foi embora.

Ele faz questão de dizer a todos os outros cafajestes que dividiram com ele mulheres e tragos:

- Jamais conte uma mentira que possa ser superada! Um mentiroso vale pouco, mas um mentiroso tolo vale menos ainda.