Paradigma rompido

O velho, como fazia todos os dias, sentou-se no sofá da sala e ligou o televisor para assistir o jornal. Entre tantas notícias uma calou-lhe fundo; mexeu com ele. Mexeu com tanta intensidade que o levou a outra, dos tempos de sua juventude.

Calado, terminou a noite.

Na manhã seguinte acordou ainda tomado pela emoção causada pela notícia do dia anterior. Do jornal posto sobre a mesa recortou parte da primeira página. Abriu um sorriso largo e, orgulhoso de seu discernimento, atravessou o jardim que separava a casa do escritório. Ali, olhou para a parede onde ficavam os quadros mais importantes, arrastou até ela uma cadeira e esticando-se retirou do local mais nobre a tradicional fotografia de Che Guevara e, de uma forma mal ajambrada, usando o mesmo prego pendurou a fotografia recortada do jornal. Desceu da cadeira, colocou o quadro retirado atrás da estante, afastou-se para mirar a substituição e não gostou.

Dali mesmo, da porta do escritório, gritou para o filho: Quero uma foto emoldurada do Steve Jobs.