Quando a alma dói

Há algum tempo atrás o suicídio era algo tão inexplicável, que nem mesmo havia qualquer celebração religiosa pela alma do suicida. Hoje, diante do aprofundamento da ciência, sabemos que na verdade o suicida é, sobretudo, uma vítima da depressão: o temido “mal do século”, a “doença da alma”, que corrói por dentro, suga o prazer pela vida, retira o sentido do amanhecer todos os dias, tira a paz e banha a alma de agonia e angústia constante.

Conviver com a solidão, enfrentar e ultrapassar as dificuldades – mesmo quando somos vencidos pelas dificuldades – bem como, sentir-se triste, mas, não entrar em desespero; vivenciar as perdas da vida, mas, não perder a vontade de alcançar outros sonhos; tentar alcançar metas, mas, estar preparado se não conseguir alcançá-las como gostaria...Estes são desafios constantes na vida de todos nós, mas, cada vez mais, presenciamos histórias onde o enfrentamento a estas dores – e outras comuns a vida do ser humano – transforma-se numa dor dilacerante, culminando na depressão e por fim, no suicídio.

Por que será que, cada vez mais, num mundo aparentemente tão cheio de atrativos, as pessoas parecem mais frágeis diante das dificuldades? O que nos falta para fortalecer nossa alma, diante das adversidades da vida? Que “doença da alma” é esta que ataca a humanidade, ignorando idade, maturidade, classe social, conhecimento intelectual ou qualquer outra coisa? O que nos falta, afinal, para vencer a depressão?

O enfrentamento do problema já existe: tratamento com medicamentos, acompanhamento com psicólogos e uma série de “dicas” em livros, além dos constantes aconselhamentos e acompanhamento dos familiares e amigos, mas, como vencer de fato, sem precisar permanecer refém de um tratamento por tempo indeterminado?

Será que precisamos voltar no tempo? Será que a saída seria “desacelerar” e deixar a correria constante? Parece que quando as festas se resumiam a um arrasta pé no terreiro, na luz da lamparina, ou quando as viagens a passeio eram uma visita à casa do compadre, que morava na fazenda vizinha, o povo era tão mais feliz...E a compra de roupas, acessórios, utensílios domésticos? Era somente na festa do padroeiro e talvez no final do ano, para o ‘galo não beliscar’. E ninguém se sentia inferior por isso.

Não temos tempo para ler um bom livro, nem de ouvir uma boa música no silêncio do quarto, ou mesmo de conversar horas a fio em roda de amigos; na calçada ( quando se faz isso, é movido a álcool, devorando os poucos neurônios que nos restam...). Vivemos numa correria desenfreada pelos novos padrões da beleza, do ser inteligente, do ser bem sucedido, do ser melhor em tudo...Quando não conseguimos, somos convidados a nos afogar em solidão e profunda tristeza; correndo o risco de encontrar no corredor estreito da vida a inesperada depressão...

Pense nisso. E ‘desacelere’, enquanto é tempo.

Anna Jailma