UM GRANDE SUSTO
 
 Meu secretário, o Negão, vinha há muito tempo, sinalizando que não estava bem!
Quando chamado ao trabalho, remanchava, arrastava-se, tinha lapsos de memória,desmaiava seguidamente...mas ia levando.
Os sintomas, entretanto, foram se agravando até que, ultimamente, só despertava no tranco!
No último sábado, o coitado , finalmente, não pode trabalhar e só informava que tinha algum problema interno.
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Apavorado, chamei o dr André, emérito especialista, com conhecimento perfeito do histórico do Negão, que, após exame minucioso, diagnosticou, com  seriedade, que seria  "com certeza um caso de  forte  infestação de virus".
- E o que é que a gente faz?
- Podemos aplicar um tratamento de choque, mas vamos correr o risco de afetar sua memória.
- Quer dizer que o coitado do Negão vai sofrer de amnésia?
           
Na absurda hipótese de perder o Negão ou mantê-lo vivo, não havia dúvida que estava pronto a autorizar a intervenção, mas, como numa explosão, lembrei dos mais de 15 textos meus, já alinhavados, que ele tinha na  sua prodigiosa memória, aguardando, apenas, o envio para o  Recanto. Com suor frio escorrendo pela testa não dei a ordem!Como poderia eu refazer todo aquele material com uma memória extremamente mais curta do que a do meu fiel Negão?  Mas mesmo que o conseguisse, jamais teriam esses textos a mesma força, o clima, a inspiração, a hora, o momento da criação!
 
Confabulamos muito, reavaliamos as hipóteses e decidimos operar , abrir o corpo do Negão, e "in loco" procurar a causa dos seus males.
Com a ansiedade de pai acompanhei a cirurgia, conheci as entranhas daquela criatura, todas as ligações entre seus órgãos...e tudo parecia muito normal!  Mas, para os olhos acurados do dr André a coisa não era bem assim!  Com um sonoro "ah,ah" ele sentenciou; "pneumonia dupla".  Os pulmões do pobre Negão estavam totalmente entupidos, impedindo a circulação e a comunicação entre os demais órgãos.
Com evidente alívio, demonstrado por um longo suspiro, sorri para o dr André e deixei-o com a tarefa de pôr a casa em ordem, o que ele conseguiu  horas depois.
Agora, totalmente recuperado, o meu querido Negão já está ocupando sua mesa e pronto para atender às minhas exigências.
Fiquei tão feliz que o beijei e o abracei à sua chegada, fato devidamernte fotografado para demonstrar que no Brasil não há preconceito racial!
Pra quem ainda não sabe, o Negão é o meu computador.
paulo rego
Enviado por paulo rego em 13/10/2011
Reeditado em 13/10/2011
Código do texto: T3274690