Atendimento pelo SUS

O celular toca, aquela voz trêmula e ofegante de alguém conhecido diz:

— Passei lá e vi ela caída no chão.

— Caída?

— Foi grave?

Pergunta o interlocutor aflito, mas o jovem não sabe responder com exatidão. Logo outro telefonema com o mesmo questionamento. Até que chega uma informação mais precisa.

Em plena tarde de verão nordestino, cheia de dores, ela é jogada na carroceria de um carro como se joga um animal para ser vendido na feira livre no final de semana. Neste momento, o sol instigante da tarde é sua única companhia até o pronto socorro mais próximo.

— Ai! Tá doendo muito! Não posso me mexer! Mas o maqueiro nem ouve a súplica insistente daquela jovem e a coloca numa maca fria e sem nenhuma proteção.

— Faça a ficha dela e espere o médico chegar.

— Que horas o médico chega?

Pergunta uma amiga que acabara de chegar no hospital para lhe fazer companhia.

— Se vocês tiverem um pouco de sorte ele deve chegar aqui a mais ou menos duas horas.

—Tudo isso!

— É um absurdo! A paciente não pode esperar, ela esta sangrando muito na perna e precisa de atendimento urgente.

— Se acalme minha senhora, todos que estão aqui precisam de atendimento de urgência, o problema é que não tem médico no momento.

Responde calmamente a enfermeira de plantão. Mal sabe ela que em certos momentos da vida, a vida não pode esperar. E segue a luta pelo tão sonhado atendimento.

Nos corredores do hospital o que se vê é um amontoado de pessoas indefesas implorando a Deus e aos médicos por socorro. Choro, gritos, lágrimas de sofrimentos escorrem pelo rosto de uma senhora pedindo a presença dos filhos, pois sentia que o seu dia estava chegando ao fim. Outro pede perdão a Deus pelos pecados cometidos e diz que se escapar dessa viverá somente para servi-lo. Macas e mais macas, umas estacionadas, outras subindo e descendo os corredores tal qual uma avenida de mão dupla congestionada em horário de pico. Após duas horas e meia, chega o tão esperado médico plantonista caminhando a passos curtos e adentra ao consultório. Começa então a expedição de sentenças aos pacientes.

— Manda esse para sala de cirurgia ele tá com fratura no crânio, seu Zé pro raio x, Maria vai tomar uma injeção intravenosa, Pedro pra sala de gesso, Raimundo precisa fazer um cateterismo vesical. Enfim, chega a vez daquela moça que sofreu um acidente de transito.

— O que aconteceu? Pergunta o médico.

— Fui atropelada por um carro.

— Onde está doendo?

— O corpo todo.

— Hum! Tá tudo bem! Faça um raio x e depois vá pra sala de sutura.

— Próximo!

Sem sequer examinar a paciente o médico aplica o diagnostico em exatos vinte e oito segundos. Daí cheguei a seguinte conclusão de que: se não fosse a demora do médico o atendimento seria verdadeiramente de “urgência” dada à rapidez do diagnostico.

Pode até demorar, mas que é rápido é.

Franklin Lira

lira.franklin@hotmail.com

Franklin Lira
Enviado por Franklin Lira em 17/10/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T3281750
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