O Sol Também Derrete Idéias.

Eram três e quarenta e sete da tarde de uma segunda feira. Era outubro e o calor estava derretendo tudo que ficasse exposto. Uma casa derreteu quando passei ao largo, sob a sombra das árvores. Era uma casa velha, estava só na rua sem testemunhas. Não era parecida com “A Casa de Usher”, de Poe, nem uma daquelas casas de filme de cinema, era uma casinha feita de lona e latão, em que um cidadão resolvera por fim construir ali, sob o sol de 40 graus, sem outras alternativas. Quando passei ouvi um estrondo estranho, não de queda ou bomba, o estrondo do esgotamento de materiais suscetíveis ao sol, algo derretendo, para ser menos prolixo. Fiquei chocado, obviamente, mas não ouvi gritos, aliás havia um silêncio sobrenatural no ar, o que me fez olhar pra trás, pra frente e para os lados, não havia ninguém, não havia som, não havia vento, não havia nada além do sol que derretia...

Passei ao largo, absorto em idéias estranhas sobre o que poderia estar acontecendo. Seria imaginação ou o sol mesmo? Deviria chamar a polícia ou as autoridades? Sairia correndo com medo de derreter-me também? E assim diversas possibilidades perpassaram por minha mente sabidamente sã. Afinal, ia ao fórum, resolver problemas alheios, a profissão que escolhi, advogado.

Subi as escadarias, fui ao balcão, perguntei sobre o processo número tal, o qual há muito e muito tempo se retardara no tempo, como outros importantes, mas que nunca requeri certidão sobre o fato devido à circunstância de estar ali todos os dias, conviver com as mesmas pessoas, o que sempre me fez refletir, contar até duzentos, olhar bem nos olhos de meu interlocutor, que sempre parece que nada entendeu ou eu expus diferente do que de fato deveria expor, mas que por fim acabo por anotar os dados e dizer que volto outra hora...

A Justiça às vezes, além de cega, se faz de besta...

SAvok OnAitsirk, 17.10.11.