REMINISCENCIAS

REMIISCENCIAS

Hoje eu não sei mais o que me emociona mais. Se é o nascer do sol que representa a vida, significa um dia a mais na existência ou o entardecer que entre lagrimas e saudades, a falta, a ausência da magnificência do amor pode causar aos corações solitários, quando o sol declina sobre um horizonte róseo e aos poucos mergulha na imensidão do mar, em busca, quem sabe como muitos o grande amor de suas vidas...

Já faz uma semana que passei dos sessenta, não vivo mais na casa materna, porém, ainda durmo na mesma cama em que nasci, onde viveram e morreram meus pais e onde me propus a morrer. Sinto saudades d casa de cuja parte não consegui comprar de outros herdeiros e, vendida, aprisionou toda uma vida de grandes emoções, de vitorias e fracassos...

Os meus amigos e parentes que não estão velhos demais já fizeram a derradeira viagem, aquela que nos encontramos infalivelmente com o criador, mais eu, continuo quase o mesmo e às vezes penso estar condenado à juventude eterna. Mesmo assim, algumas vezes eu costumo desanimar, sentir o pulsar de minhas veias fraquejar e de me espremer para arrancar das entranhas sem que alguém possa notar o meu pranto forças para continuar a viver sombreado por fantasmas e ter uma vida longa com um final feliz e sem sentir a desagradável circunstancia de morrer.

Esse ano o meu aniversário se deu na praia, sem o colorido de balões, sem a cama repleta de presentes, sem o bolo confeitado com velas do tanto dos meus anos e sem o perfume inebriante das pessoas com as suas vestes eloquentes, rodeando a mesa com o bolo e outras iguarias e o cantar de muitas vozes entoando o parabéns a você. Assim, eu lembrei dos anos passados e tive de tragar as lagrimas de emoção porque esse ano não teve nada disso. Mais o relógio apontava dezessete horas e como um remanso endêmico do cataclismo dos tempos modernos, eu olhei para o céu e ví uma estrela solitária a quem dei o nome de EU e ao longo, um barco tardio lançou um adeus descompassado, eu senti nesse momento um nó na garganta de todos os amores que puderam ter sido e que não foram... Caiu uma chuva fina e a casa se encheu do cheiro de terra molhada e não tive tempo de escapar ileso de minhas lagrimas que rolaram o meu rosto preenchendo o sulco de minhas rugas que começam a surgir e o peso da solidão não é senão uma licença poética para não se morrer de amor.

Airton Gondim Feitosa