O professor



 
                               Acabo de chegar  da minha caminhada de quatro quilômetros.
                               Corro para o computador, ainda suado, respiração ofegante.
                               Sabe o que é, amigos leitores, quando caminho ocorre um fenômeno comigo. Nesta longa caminhada meu pensamento não para. E costumo fazer mentalmente umas quatro crônicas que considero boas. Isso acontece normalmente nas minhas andanças. Talvez o balanceio do meu corpo provoque intensas sinapses no cérebro, choques elétricos benditos, que me fazem associações de ideias.
                               Se não corro para escrever, as crônicas somem logo. Muitas vezes me resta meia crônica,  e ainda por cima sem graça.
                               Minha leitora, meu leitor, não liga, não! Mas vou fazer um parêntese, pra  contar uma historinha que nunca me saiu da cabeça. Depois a gente continua a crônica, tá bem?
                               Pois é, isso é o que o meu amigo Seminale chama de fuga da ideia, do pensamento, sei lá!  Ele  entende desse negócio de literatura. Eu só escrevo. E  muitas vezes não muito bem...
                               Vocês não acham que a conversa desse meu modo fica mais agradável?
                               Aí eu concordo:  parece que eu e os leitores estamos tomando aquele cafezinho bem quentinho. E a conversa flui gostosa... Sentimo-nos em casa, à vontade, não é verdade? Então vou contar o que não me sai da cabeça.
                               Tive um professor de Direito, que era Desembargador. Velhinho, dava aulas de Direito Civil. Ótimo professor e excelente pessoa. Uma noite, a turma fazendo prova com ele, vi com esses meus olhos que a terra há de comer um lance humano, para mim, extremamente comovente. Vou dizer o nome dele, pois ele merece. Pelo tempo já morreu, com certeza. O nome dele era Barandier!  A minha admiração por ele é imensa.
                               Como eu ia dizendo, estávamos fazendo prova. O Barandier andando pela sala e nós, alunos, fazendo a prova. De repente, vejo meu colega ao lado colando, descaradamente, livro aberto no colo. Todo mundo já viu isso! Fiquei em pânico pelo colega. O Barandier se aproximava dele. E acontece o inusitado. O velho professor  vê o cara colando. Toma o maior susto. Cena seguinte: vejo  o mestre ficar vermelho que nem um tomate. Envergonhado, se afasta do aluno “colador” e não toma nenhuma atitude.   Ainda saiu devagar       para o meu colega não se assustar. Só eu, de toda a turma flagrei este momento sublime do Barandier.
                               Sinceramente, um cara desses é o máximo pra mim. Por favor, não me venham com atitudes duras.  Lembrei-me do poeta Drummond que aconselhava ao professor   assim: “Professor, se vires um aluninho, de manhã, dormindo na carteira, não zangue com ele, não dê sermões, continue com a  aula, baixando a voz, para não acordar o aluninho.
                               Bem, volto agora para a crônica. O que eu estava dizendo mesmo?
                                Ah! já sei. Falava da minha inspiração nas caminhadas. O que eu queria dizer é que preciso contratar um professor de ginástica para me acompanhar nas caminhadas. Assim, poderei ir ditando minhas crônicas para ele.  Nada de “personal  trainer” feminino, é problema na certa. O amor ronda o ser humano de uma maneira impressionante.
                               Penso que  deste modo salvaria minhas inspirações, faria ótimas crônicas, sem me perder em atalhos, com uma ideia central e parava com esse negócio  de fugas de pensamento...   E paro com minhas distrações natas. Não é que fiz uma crônica como se fosse hoje o dia do Professor?