MAU TEMPO
Acordo, meio amuado, e ouço o murmúrio de uma toadal
Apuro o ouvido e distingo, agora, a voz da Lee, minha cônjuge, cantarolando, na cozinha ;
“ .. não me pergunte onde fica o Alegrete..” mas em "gauchês.
Quando ela fala a tal lingua é que a coisa não vai bem. Agora, cantar, é um fato inusitado e receio que os efeitos não sejam nada melhores. Por isso, acho bom ir de mansinho...
Me visto, trato do rosto e dos dentes e me apresento ao serviço.
- Bom dia, Lee.
"... salve o canto gauchesco e verdadeiro " obtive como resposta.
Saio de fininho e volto ao quarto esperando alguma coisa acontecer, E acontece!
- Sampaaaaa! (Sampa sou eu). Preciso que tu vás ao Zona Sul e me tragas essa listinha aí: meia dúzia de cacetinhos, um quilo de tatu, duas latas de mumu e dois vidros de chimia. Ah, e vê se não ficas olhando aquelas chinelonas da academia de ginástica, porque se demoras vou lá e te pego à laço e dou-te uma camaçada de pau, bagual! Tens 15 minutos para ir e vir!
Pela porta entreaberta do apê, digo - "Tô indo, chinoca" e fecho, rápido, a porta, antes que venha de lá de dentro, voando, a concha de feijão.
No caminho, com passo apressado, vou pensando - "se eu chegar no Zona Sul e pedir aquelas coisas, com certeza vou arrumar encrenca e ser acusado de atentado ao pudor ou mau-trato a animais em vias de extinção! Melhor é traduzir para: meia dúzia de pães franceses, um quilo de carne, duas latas de doce de leite e dois vidros de geléia. Quanto às chinelonas, se alguém estiver interessado, pergunte pra Giustina, que ela sabe.
Volto ao apê em 14 minutos, que é o novo recorde, e vou depositar as bolsas sobre o tapete.
- No tapete, nãããããão! Em cima da mesa, seu desastrado!
Obedeço e, disfarçadamente, dou uma olhadinha no calendário colado na geladeira e noto que o círculo vermelho da TPM ainda está muito longe. Então, o que será desta vez?
Corro à varanda e procuro núvens escuras no céu, mas este se mostra inteiramente limpo.
O mar, sim, está encrespado por conta do sudoeste que vem entrando firme. Será que esse vento está trazendo a saudade das plagas do sul ou, talvez, uma reminiscência amarga? Talvez.
Por via das dúvidas, me refugio no quarto e fico navegando pela Internet, dou uma espiada no Recanto ...e o tempo vai passando.
De repente lá vem aquela voz de novo; - Zimbaaaaa (Zimba, sou eu, em tempos de paz), a gororoba tá pronta. Vem logo, minino, enquanto tá quentinha. (ah, melhorou, agora já em carioquês legítimo).
Boto a cabeça pra fora, só pra me certificar se é verdade mesmo ou uma torpe armadilha. Mas é verdade e, então, crio coragem pra me apresentar de corpo inteiro. Ela já está sentada, olho fixo na TV, do qual se desvia um segundo apenas pra conferir se estou decente ou não (ás vezes eu esqueço de me vestir e desfilo qual Adão, sem a folhinha de parreira).
Volto à varanda e noto que o mar voltou à normalidade; o vento agora é quase uma brisa e de Leste.
Impressão ou não, estou achando que o céu, de repente, ficou muito mais azul!
Acordo, meio amuado, e ouço o murmúrio de uma toadal
Apuro o ouvido e distingo, agora, a voz da Lee, minha cônjuge, cantarolando, na cozinha ;
“ .. não me pergunte onde fica o Alegrete..” mas em "gauchês.
Quando ela fala a tal lingua é que a coisa não vai bem. Agora, cantar, é um fato inusitado e receio que os efeitos não sejam nada melhores. Por isso, acho bom ir de mansinho...
Me visto, trato do rosto e dos dentes e me apresento ao serviço.
- Bom dia, Lee.
"... salve o canto gauchesco e verdadeiro " obtive como resposta.
Saio de fininho e volto ao quarto esperando alguma coisa acontecer, E acontece!
- Sampaaaaa! (Sampa sou eu). Preciso que tu vás ao Zona Sul e me tragas essa listinha aí: meia dúzia de cacetinhos, um quilo de tatu, duas latas de mumu e dois vidros de chimia. Ah, e vê se não ficas olhando aquelas chinelonas da academia de ginástica, porque se demoras vou lá e te pego à laço e dou-te uma camaçada de pau, bagual! Tens 15 minutos para ir e vir!
Pela porta entreaberta do apê, digo - "Tô indo, chinoca" e fecho, rápido, a porta, antes que venha de lá de dentro, voando, a concha de feijão.
No caminho, com passo apressado, vou pensando - "se eu chegar no Zona Sul e pedir aquelas coisas, com certeza vou arrumar encrenca e ser acusado de atentado ao pudor ou mau-trato a animais em vias de extinção! Melhor é traduzir para: meia dúzia de pães franceses, um quilo de carne, duas latas de doce de leite e dois vidros de geléia. Quanto às chinelonas, se alguém estiver interessado, pergunte pra Giustina, que ela sabe.
Volto ao apê em 14 minutos, que é o novo recorde, e vou depositar as bolsas sobre o tapete.
- No tapete, nãããããão! Em cima da mesa, seu desastrado!
Obedeço e, disfarçadamente, dou uma olhadinha no calendário colado na geladeira e noto que o círculo vermelho da TPM ainda está muito longe. Então, o que será desta vez?
Corro à varanda e procuro núvens escuras no céu, mas este se mostra inteiramente limpo.
O mar, sim, está encrespado por conta do sudoeste que vem entrando firme. Será que esse vento está trazendo a saudade das plagas do sul ou, talvez, uma reminiscência amarga? Talvez.
Por via das dúvidas, me refugio no quarto e fico navegando pela Internet, dou uma espiada no Recanto ...e o tempo vai passando.
De repente lá vem aquela voz de novo; - Zimbaaaaa (Zimba, sou eu, em tempos de paz), a gororoba tá pronta. Vem logo, minino, enquanto tá quentinha. (ah, melhorou, agora já em carioquês legítimo).
Boto a cabeça pra fora, só pra me certificar se é verdade mesmo ou uma torpe armadilha. Mas é verdade e, então, crio coragem pra me apresentar de corpo inteiro. Ela já está sentada, olho fixo na TV, do qual se desvia um segundo apenas pra conferir se estou decente ou não (ás vezes eu esqueço de me vestir e desfilo qual Adão, sem a folhinha de parreira).
Volto à varanda e noto que o mar voltou à normalidade; o vento agora é quase uma brisa e de Leste.
Impressão ou não, estou achando que o céu, de repente, ficou muito mais azul!