INOCÊNCIA NA CASA DA LUZ VERMELHA

Chegava as tão sonhadas férias.

Eu tinha meus 15 anos, estava estudando no Seminário em Itajubá, Sul de Minas Gerais. Só visitava minha família nas férias.

No meio do ano eram pouco mais de 15 dias então passava em São Paulo com meus pais e irmãos.

Mas as férias de final de ano, as mais esperadas ia para São Paulo e depois de ficar alguns dias com meus pais, geralmente depois do Natal ia com minha mãe e meus irmãos íamos para a cidade natal, Campo Belo.

Revia os primos, os tios, e a maior parte do tempo queria passar na roça, na fazenda com meus avós.

Como eram gostosos estes dias que lá passava.

Finais de semana íamos todos para a cidade, não que eu gostasse, pois na fazenda era muito mais divertido, mesmo quando só eu estava lá.

Andava a cavalo, nadava muito, escalava morros e sem falar na fartura de frutas que lá havia.

Quando estava na cidade costumava passar algum tempo em companhia dos primos e principalmente do Nardinho, um primo em segundo grau, mas para mim todos eram primos.

Ele era um pouco mais velho que eu e costumava me levar para um restaurante em frente a Praça da Matriz, esquina com a Afonso Pena e lá entre conversas e animação íamos saboreando um torresminho e tomando uma cerveja. Não estava acostumado a tomar cerveja, mas pela sua insistência eu o acompanhava.

Nardinho era uma destas pessoas que conhecia todos da cidade e apresentava-me a todos os seus amigos.

Certo dia ele disse-me - hoje a noite passo na casa da vó Anita para te pegar, quero levá-lo a casa de uma amiga.

Como eu gostava da companhia do primo não poderia recusar o convite.

A tardezinha, já anoitecendo fomos nós em direção a Estação Ferroviária à visita combinada.

Chegamos a uma casa da Luz Vermelha próximo a Estação onde ele foi entrando e cumprimentando a todos.

Entramos por numa sala ampla, com algumas mesinhas e cadeiras onde algumas pessoas conversavam, geralmente casais.

Logo encontrou uma moça a qual fui apresentado.

- Este é o Adauto, meu primo ele está estudando no Seminário - disse ele a moça.

Em seguida me vi sentado a uma mesinha com aquela moça que começou a conversar comigo e a perguntar-me sobre a vida lá no Seminário. Como era, o que eu fazia, etc...

Logo notei o desaparecimento do meu primo e continuei lá naquela sala em penumbra, havia algumas lâmpadas vermelhas tornando o ambiente um tanto reservado.

Não faltaram assuntos, a moça parecia curiosa a perguntar-me sobre o meu dia a dia e eu calmamente e inocentemente continuei a responder a tudo até que começou a faltar-me assunto e ela já meio sem graça também silenciou. Vez ou outra lançava-me um olhar e um sorriso.

Indaguei-me sobre o Nardinho, onde teria ido e ela calmamente me acalmou dizendo que logo estaria lá de volta. Tratou de reforçar o prato de petiscos e pedir mais cerveja.

Já se fazia tarde, minha ansiedade e meu desconforto ali ia aumentava.

Foi ai que surgiu o Nardinho acompanhado de outra moça que da mesma forma da primeira apresentou-me como seu primo que estudava no Seminário.

Perguntou a minha anfitrião se gostou de mim, esta respondeu que sim meia encabulada também.

Despedimos-nos e fomos para casa, minha mãe e minha avó devia já estar preocupadas comigo.

Caminhamos meio em silêncio sem ao menos comentar sobre a visita e cada qual foi para sua casa como se nada tivesse acontecido.

Minha mãe e minha avó nada perguntaram e logo fui para o meu quarto ainda sem saber exatamente o que era aquele lugar que conhecera.

Achara sim um tanto estranho, pois a casa apesar de pessoas aparentemente felizes, comendo e bebendo, achei-as um tanto frias para ser uma casa e de amigas do Nardinho.

Passou-se um ou dois dias... pude ouvir a tia Arlete - conversando com o marido.

Tia Arlete era uma daquelas pessoas alegras com uma risada contagiante e forte - contava para o tio Juarez, e outras tias e amigas que o Nardinho havia me levado a Zona.

Foi ai então que compreendi o motivo daquele convite.

Mas continuei na minha inocência sem ao menos ter deixado ser iniciado.

Fiquei morrendo de vergonha, encabulado e evitei confrontar-me com os tios por um bom tempo.se contaram para minha mãe não sei, porque nunca ouvi comentário por parte dela.

Nunca mais falamos sobre o assunto e muitos anos se passaram, depois de 40 anos, outro dia comentei sobre episódio pela primeira vez, com o Nardinho durante uma conversa com ele, no Messenger, visto que mora em Brasília desde aquela época e nunca mais o encontrei, somente agora pela internet e alguns anos atrás numa consulta médica. em Sao Paulo e que nos visitou.

- Disse ele todo sorridente:

- isso não foi nada, das coisas que eu aprontava esta foi a menor !

Ai descobri o autor de outros fatos e causos ocorrido naquela época de doce adolescência...