As aparências...

Na despedida de uma colega de trabalho que transferira-se para outra cidade, comemoramos de uma maneira sui-generis: Os mais chegados com algumas cervejas e um violão se reuniram na Praça das Caixas d'água, cartão postal da cidade. E assim a bincadeira ia animada, com dois colegas se reversando no violão, outros tres ou quatro cantando e o restante, como é de praxe, atrapalhando.

Algum tempo depois, meio que do nada, foi se chegando um sujeito totalmente desconhecido e de atitudes, senão suspeitas, pelo menos estranhas. Ele olhava pra gente, olhava pro violeiro, pro violão e se aproximava um pouco até que sentou-se no banco mais proximo do nosso grupo. Alí ficou com o flagrante propósito de se enturmar. Ria, batia palmas... até chegou a esboçar uma cantoria, ajudando a gente em algumas músicas. Por mais que fossemos numerosos, ficamos muito atentos aos movimentos do "suspeito".

Um dado momento o violão parou, e tudo indicava o "fim-de-festa"; Fizemos mais um brinde; Até nesse momento o estranho foi ousado e ergueu a mão em concha, como se segurasse um copo invisível e brindou conosco. Daí virou-se pro dono do violão que o mantinha sobre as pernas e perguntou se podia olhar. todos ficamos apreensivos. O sujeito pegou o violão com o maior carinho do mundo, como se fosse a uma criança recém-nascida. Feriu cada corda, uma por vez, e sempre aproximando o bojo ao ouvido, como se buscasse alguma mensagem oculta naquele instrumento. Todos nós estávamos convictos que aquele sujeito só poderia ser maluco para agir daquela forma.

Então suavemente ele colocou o violão na posição clássica e tocou uma nota qualquer. Nesse momento alguém que estava no grupinho menor, onde eu estava, cochichou: "Só falta esse maluco puxar uma palheta do bolso". Não fechou a boca e o estranho já estava a puxar a proferizada palheta. E, pasmesm, puxou duas e examinando-as minuciosamente escolheu uma e tocou por quase duas horas, todo tipo de musica que pedíamos, inclusive umas totalmente estranhas, mas de boa qualidade, que dizia serem de sua propria autoria... Inesquecível!