O drogado

Eram umas 22 horas e aguardava a chegada de meu filho Saulo que ia me fazer uma rápida visita depois do término das aulas. Chegou e ficamos conversando. Precisou ir embora porque morava longe e estava tarde. Divinópolis é uma cidade grande e grandes também são os problemas, principalmente à noite.

Ele mal havia acabado de sair, o interfone toca. Faltavam 15 minutos para a meia-noite. Eu não atenderia nunca mas pensei que o meu filho queria ainda dar algum recado.

Disse: “Pronto” e uma voz masculina me perguntou se era o apartamento do Sávio (meu outro filho). Eu disse que sim. Afinal o apartamento pertence aos meus filhos e eu também não queria dizer que estava sozinha em casa.

Perguntou-me se ele estava. Disse-lhe que o Sávio estava dormindo.

- A senhora então resolve o meu problema – foi ele dizendo. Eu trabalho para o Sávio e estou precisando de dinheiro.

- Como se chama?

- Douglas. Minha mulher está no hospital para ter criança e eu preciso pagar o taxista.

- Quanto é? perguntei.

- Vinte e cinco reais.

- Diz pra ele passar amanhã aqui que eu pago.

- Não! Ele quer receber hoje.

- Ele está aí com você? Perguntei novamente.

- Não, ele está me esperando lá no hospital.

- Vou ver se tenho o dinheiro. Disse-lhe.

Vi que tinha o dinheiro suficiente e chamei o elevador para descer até à portaria. Já estava preocupada como iria entregar esse dinheiro ao rapaz sem abrir a porta que é toda de blindex.

Achei conveniente buscar o celular. E veio-me a idéia de telefonar para meu filho.

Por sorte meu filho estava acordado. Contei-lhe tudo e ele me disse:

- Mãe, não vai lá não. Isso é golpe! Eu não tenho funcionário com este nome. Chame a polícia!

Eu então tranquei a porta do apartamento e fiquei de tocaia. Não quis chamar a polícia. Iria esperar mais um pouco.

O rapaz sentindo que eu estava demorando a descer, chamou mais umas 3 vezes o interfone mas eu não atendi. Meu coração estava acelerado.

Por fim ele desanimou e foi-se embora. Nesta noite eu não dormi.

No outro dia, contei o ocorrido para a Gracia, minha vizinha que mora no apartamento abaixo do meu.

Daí a 3 dias, estava eu na parte de cima aguardando uma entrevista de meu neto que iria passar às 22 horas na TV local.

As luzes da parte de baixo estavam todas apagadas. Toca o interfone.

Não fui atender pois estava tarde e sabia que não eram meus filhos pois todos têm a chave do apartamento.

Tocou mais uma vez e eu fiquei quieta. Alguém abriu a porta para ele ou então entrou junto com alguém. Só sei que daí a pouco toca a campainha da porta de meu apartamento. Aí precisei descer para ver quem seria. Não fiz barulho algum e pelo olho mágico vi um rapaz moreno, alto e forte. Tocou 2 vezes a campainha. Eu não abri.

Fiquei observando pelo olho mágico pois se ele mexesse na porta eu ira chamar pelos vizinhos.

Ele então desceu as escadas. Ouvi vozes. Escutei a voz de minha vizinha. Depois tudo silenciou. Telefonei na hora para a Gracia e ela estava apavorada. O rapaz tocou a campainha de sua casa e ela achando que era alguma vizinha, vestiu um roupão, pois já estava de camisola, e foi abrir a porta. O rapaz já estava descendo as escadas e ouvindo o barulho da porta se abrir, voltou e disse:

- Dona, eu trabalho para o Sávio.

Como Gracia já sabia da história, disse pra ele:

- Eu vou chamar a polícia pra você!

Ele desceu correndo as escadas.

Aí ficamos com medo e telefonamos para o 190.

A polícia não demorou nada e já estava em nossa porta. Vasculhou todo o prédio mas o rapaz já havia ido embora.

Os policiais nos orientaram como agir e que em caso de precisão telefonássemos para eles. Devia o rapaz estar querendo dinheiro para comprar drogas.

No outro dia, conversei com a secretária de meu filho que com ele trabalha há muitos anos e conhece todas as pessoas que já passaram na empresa. Ela me disse que já tiveram dois Douglas: um morava no Espírito Santo e o outro ela não sabia o paradeiro mas enquanto lá esteve deu muito trabalho porque era usuário de drogas.

Só sei que ele nunca mais apareceu.

Quando encontro com os policias na rua, eles me cumprimentam e perguntam se está tudo bem. Que qualquer coisa posso telefonar que eles vem na hora.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 28/10/2011
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