A grana é pouca a bronca é muita mas o peixe é bom

Eu fico muito na bronca quando me vejo impotente diante de alguma situação. Acordei decidido a ir até a boca da barra comprar um peixe. Acordei cedinho e não fui de camêlo, dessa vez peguei uma van. Pouco mais de cinco minutos e estava no centro. Desci da van e fui caminhando, aproveitando as ruas ainda vazias e bem arborizadas de Rio das Ostras, agradável de se caminhar, sem pressa, porque se tem uma coisa que tenho sobrando é tempo. Estou até pensando em trocar um pouco por dinheiro, que me falta em abundância. Parei num boteco pra tomar um cafezinho e olhar o marzão esverdeado e ouvir o papo furado dos mais desocupados do que eu, porque quando cheguei no boteco eles já estavam a meio caminho no papo furado. tomado o café, fui ao peixe. Compra feita tomei um outro caminho de volta até o ponto das vans. Foi eu sentar no banco da frente e a van saiu. Imediatamente ouço um sonzão nas alturas. Um funk daqueles bem desbocados. Me virei pra pedir que o cidadão abaixasse o som ou o desligasse, mas me deparei com um monstrengo musculoso, com não mais que dezessete anos e com cara de encrenqueiro. Não tenho mais idade pra encarar certos perigos. O jeito foi pedir ao motorista que parasse no primeiro ponto. - Mas o senhor entrou no ponto anterior, me disse ele. - Pois, é, respondi. Se a música do moço lá atrás fosse muito boa, ainda assim não somos obrigados a ouvir e como não posso exigir que ele diminua o volume, desligue ou desça da van, desço eu. Vi que o motorista estava meio sem graça quando disse que o rapaz era filho dele. Mesmo na bronca percebi que sou um cara de sorte. Meu filho não é funkeiro, não agride o direito alheio e tem bom gosto musical. A boa digestão do meu peixe estava salva. Mas que fiquei na bronca, fiquei.