Quem tem medo do Halloween?

O Dia das Bruxas nunca representou nada para mim. Eu não usava maquiagens sangrentas, nem criava maratona de filmes de terror, muito menos ia a festas à fantasia. O único evento que podia me atrair nessa tradição norte-americana era, quando criança, bater na porta dos outros para coletar docinhos. Mas isso não existe no Brasil.

Só que no Canadá a história é outra. Nos últimos dias de outubro, há tanta gente com roupas macabras ou versões extra-decotadas de coelhinhas e princesas da Disney, que é difícil escapar do clima de Halloween. Então, resolvi experimentar esse frisson e passar uma noite inteira indo a casas de terror para enfrentar um dos meus maiores medos: o escuro.

Desde a infância tento treinar meu cérebro a aceitar que esses monstros que se encondem no breu são de mentirinha, que o perigo está muito mais na minha cabeça do que na vida real. Mas nunca consegui manter a calma. Logo, não me surpreendi ao notar que eu mal podia me mover quando entrei no primeiro labirinto de Halloween.

Era tanta neurose de que há um fantasma em cada esquina pronto para me derrubar. Tanto medo em antecipação pensando que o futuro próximo seria terrível. Tanto pânico em tentar prever todas as possibilidades de fuga e proteção, que aquele pequeno mundo me parecia de uma complexidade sufocante. Minha vontade era sempre de desistir antes mesmo de começar. Até que alguém me disse: “fica mais fácil se você encarar que é só um passo de cada vez”.

E é verdade. Dar um passo adiante, unzinho só, e ver no que isso resulta, é incrivelmente menos pesado do que sair atropelando o tempo com a mente, querendo adivinhar o fim quando ainda se está no início de um desafio. Porque pensar demais no futuro, essa maldita e fascinante escuridão imprevisível, permite que nossa imaginação crie asas hiper-criativas que constroem cenários mirabolantes para o bem ou para o mal.

Nessas situações, a não ser que você seja um otimista incurável, o cérebro funciona muito mais como prisão do que incentivo para encarar o medo do que está por vir. É o instinto de sobrevivência te dizendo que o presente familiar pode até ser entediante, mas é seguro, cômodo. Enquanto novas experiências, principalmente essas com potenciais de transformar sua vida, são tão perigosas quanto um Freddy Krueger.

No entanto, quem se arrisca quase sempre descobre que andar no escuro devagar, um passo de cada vez, nem é tão difícil. Nossos olhos se acostumam e conseguimos nos orientar melhor. Os monstros, vez por outra, realmente estão se escondendo na esquina, te pegam desprevenido e te dão um susto – uns bem piores do que os outros. Porém, nenhum chega a te matar! E quando você chega na reta final, sente um alívio que dá até vontade de rir do papel de bobo que fez no início, tremendo cheio de medo com previsões terríveis que nunca se concretizaram.

A conclusão super legal do meu Halloween é que não vale a pena eu me descabelar com o mistério dos dias que ainda não vivi. Por mais complicada que minha história esteja agora, cheia de pendências e dúvidas, a melhor forma de me ajudar é me permitir explorar meus agoras e planejar somente os futuros imediatos, o próximo passo, com o coração aberto para as surpresas que o kosmos mandar na minha direção.