Louco de ouvido

Sempre carreguei em minha alma a música, marsupial que nunca quis sair, e se o fez foi de forma desafinada, desagradável; mas eu tenho um filho que aprendeu a tocar violão de ouvido. Minha mãe sempre insistiu para que eu tocasse algum instrumento, nunca venci a desafinação, e o meu filho aprendeu, apenas isso... aprendeu. e de ouvido

Em meus momentos de solidão eu teimo em cantar, e os meus critérios críticos insistem em me fazer desistir.

Adotei outros hábitos para quando houver apenas a ausência, ao meu redor: passei a falar sozinho. Tem suas vantagens, você pode mudar o tema quando lhe aprouver; às contestações não haverá réplica e basta ficar calado para que o "cale-se" não venha ferir suscetibilidades.

Já encontrei, em mim, respaldo para os mais tresloucados projetos, anuência que não me seria dado por outro ouvinte; e com a minha aprovação fiz os mais inconcebíveis itinerários.

Já fui super herói, do invisível ao que lança chamas, bati em todos os possíveis inimigos e venci a resistência das mais inacessíveis damas.

Já me contei as mais ousadas viagens, que faria ao redor do mundo, tendo ganhado na sena, sozinho, como já me falei das tendas e castelos que habitarei, com a minha princesa.

Discuto comigo as vantagens e as desvantagens de alterar a forma de se fazer, ou de se alcançar, e as minhas sugestões sempre prevalecem

E assim, ouvindo todos os meus discursos, sem nexo, acabei ficando louco; sem nenhuma preparação prévia, sem nenhum curso de especialização:

Posso mesmo afirmar que "Sou Napoleão" - de ouvido

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 31/10/2011
Reeditado em 01/11/2011
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